Jornal da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | Especial
DIA DA COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL 7 Um dos exemplos foi a apresentação de uma pesquisa promovida por um grupo da indústria farmacêutica. “Os mili- tares faziam cálculo de medicamento com base em matéria- -prima e concluíam que podiam produzir mais barato. Mas usando a mão-de-obra militar”, recorda-se. Encontros entre empresários e governo, participação nas escolas militares do exército e aeronáutica, contatos com áreas médicas e semi- nários faziam parte da atividade educadora a que ele se de- dicou por 13 anos na AAB. A AAB acabou transformando-se na maior escola prática de relações públicas na época e celeiro de novas agências. Embora existissem cursos técnicos, como do Instituto de De- senvolvimento Organizacional do Trabalho (Idort), o pioneiro de nível superior foi criado na USP em 1967. O primeiro a deixar a agência foi Antonio De Salvo , fundador da ADS. Car- los saiu em 1975 e levou como sócia Vera Giangrande , outra ex-AAB, então RP da Squibb. Pouco depois, Lorenzetti criou a LVBA. As contas da Caterpillar, Basf e Votorantim acom- panharam a Inform, que chegou a ocupar o posto de maior empresa do Brasil na área nos anos 1980. Carlos dedica à sócia boa parte do esforço para quebrar a rivalidade entre as áreas de jornalismo, responsáveis por assessorias de imprensa, e relações públicas. Esse foi um em- bate de anos, ali entre 1980 a 1986, quando finalmente houve um armistício entre as duas áreas, com as bênçãos recíprocas de Audálio Dantas , à época presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e Vera Giangrande, que presidia o Con- selho Federal de Profissionais de Relações Públicas (Conferp). É desse período o lançamento do Manual de Assessoria de Imprensa, que preconizava a atividade como típica e exclusiva dos jornalistas, abrangendo não só a assessoria de imprensa, mas também as publicações empresariais, iniciativa que, ao ser endossada pelo Conferp, sacramentou uma espécie de di- visão informal das atividades e a paz entre as duas categorias (ao menos publicamente, já que se soube, depois, que nos bastidores muitos colegas criticaram a atitude de Vera, em abrir mão oficialmente daquele segmento da atividade). Vera, a propósito, talvez a maior de todas as lideranças de relações públicas do Brasil, ainda à frente do Conferp, estimu- lou a formação da Associação Nacional das Empresas de Comu- nicação Social (Anece), que mais tarde deu origem a Associação Brasileira das Empresas de Comunicação (Abracom). Isso de certo modo concluía essa harmonização havida com o Manual de Assessoria de Imprensa, pois, do outro lado, também nas- cia a Associação Brasileira das Empresas de Relações Públicas (Aberp). Mas curiosamente essas duas instituições acabaram- -se batendo em duelos durante praticamente toda a existên- cia, a ponto de uma, a Anece, não permitir o ingresso em seus quadros de empresas dirigidas por RPs; e de a outra, a Aberpe, como contrapartida, não aceitar as empresas de jornalistas em seus quadros. Ambas, profundamente corporativistas, viriam a perecer ao não se preocuparemcomos verdadeiros problemas empresariais, mas sim com os problemas dos profissionais. É preciso lembrar, ainda, que o mercado, nesse tempo, era favorável a esse empreendedorismo que fez surgir de- zenas de agências brasileiras na época, tanto as de cunho jornalístico quanto as de cunho de relações públicas. Isso porque as multinacionais do setor não tinham interesse no Brasil, já que estávamos em plena ditadura militar e, portan- to, com pouco campo para o exercício na plenitude de uma atividade de comunicação. Censura e jornalismo econômico e de negócios A atividade de relacionamento com a imprensa também teve apoio indireto da censura. A redução da participação de notícias sobre política na mídia abriu espaço para o jorna- lismo econômico e de negócios, ajudando a divulgação de iniciativas empresariais ou setoriais. Mais tarde, a mudança política, com a reconstituição do legislativo e da democracia, abriu caminho para a chegada de todas as grandes empresas globais de RP ao País, por meio de aquisições ou parcerias, e foi ficando cada vez mais clara a sobreposição de atividades como assessoria de imprensa e relações públicas. Ao mesmo tempo, as empresas clientes começaram a despertar para a importância de agregar à venda de emoção, por meio da propaganda, informações objetivas sobre suas atividades, para seus diferentes públicos. “Todo mundo fazia tudo. Mas o lobby até hoje tem conotação ruim no Brasil”, diz Carlos. A Inform foi mais tarde rebatizada para Mestieri PR e hoje tem a filha de Carlos, Roberta, à frente do negócio. Um dos grandes momentos da empresa foi durante a implantação da rodovia Carvalho Pinto (SP), cujo itinerário segue paralelo ao da rodovia Presidente Dutra e cruza diversos municípios. Road shows ajudavam a convencer prefeitos, vereadores e opinião pública sobre a necessidade de construção de aces- sos e minimização de impacto sobre a Mata Atlântica, com túneis ajudando a manter o equilíbrio da região.
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