Jornal da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | Especial

DIA DA COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL 18 P rofissionais que alcançaram o C-Level das empresas mostram como a atividade avançou no mundo corpo- rativo. Mais um jornalista desta época de conhecimento corporativo empírico, Miguel Jorge havia passado pelo Jornal do Brasil nos anos 1960, compôs a equipe inaugural do Jor- nal da Tarde e depois manteve-se por 11 anos no Estadão. Como diretor de Redação, em 1977 recebeu um inesperado convite de Wolfgang Sauer, então presidente da Volkswagen do Brasil, que adiantou a fusão da empresa com a Ford na América Latina, dando origem à Autolatina, maior empresa do continente. “Achei que era um furo, mas era um convite para ser diretor de Comunicação”, conta. Embora jornalistas assumissem cargos em empresas com alguma constância, era a primeira vez que o movimen- to chegava a tal nível. O mercado ainda era relativamente incipiente. A Aberje ainda representava editores de revistas e jornais de empresas, um funil muito estreito para a gama de atividades que àquela altura já eram exercidas nas insti- tuições. A própria Aberje, acompanhando essa evolução mu- dou seu nome para Associação Brasileira de Comunicação Empresarial, sem, no entanto mexer na marca. A indústria automobilística foi uma escola neste sentido, trazendo das matrizes conceitos como relações públicas, institucionais, com governos. A criação da Autolatina deveu-se em parte à intenção da Ford de deixar o País – na época, a perspectiva de arcar com multa bilionária para as revendas desestimulou o movimen- to. Com a fusão, o então responsável por comunicações na Ford, Agostinho Gaspar , fundou a G&A e Miguel Jorge assu- miu a Diretoria de Assuntos Corporativos da nova empresa, passando depois à Vice-Presidência. Para liderar a área de imprensa chamou seu ex-colega de Estadão, Luiz Carlos Sec- co . A área de governo chamava cada vez mais atenção, por causa de controle de preços, e uma visita a Washington (EUA) mostrou como a atividade era feita por lá, com uma equipe de 50 profissionais como especialistas em segurança, emis - são veiculares, engenheiros. O movimento sindical estava no auge, o sindicato dos metalúrgicos era o mais forte do Brasil, com visibilidade extrema. Com participação na camada de decisões executivas, Mi- guel podia interferir em decisões como adiar mudanças de preço por repercussões negativas, adotar sexta-feira como dia de demissões – por esvaziamento da imprensa no fim de semana – e deu início à política aberta de comunicação, como se antecipar ao sindicato em manifestações de greve e abrir as portas da fábrica para cinegrafistas registrarem van - dalismo. A estratégia fez a comunicação avançar, inclusive em conjunto com sindicatos – o que foi seguido por outras empresas. “As empresas eram muito fechadas”, lembra. À abertura política somava-se a maior consciência do consumidor, graças ao Código do Consumidor, de 1986. Mais tarde, foi a vez da tecnologia transformar a comunicação. Primeiro, com computadores, disquetes, CDs. Depois, com celulares e possibilidade de jornalistas publicarem matérias ainda durante entrevistas. Mas então Miguel já tinha muda- do de endereço. Depois de assumir na Autolatina também as áreas jurídica e de recursos humanos, quando a parceria se desfez, em 1994, com a abertura do mercado para impor- tações, ele se manteve na Volkswagen nas mesmas funções até chegar ao Santander, em 2001. Antes, porém, em 1989, Miguel protagonizaria uma outra faceta de sua carreira, que teve um grande impacto para a Comunicação Empresarial: ele aceitou o convite dos colegas da área para presidir a Aberje, o que seria até então o passo mais ousado na construção de uma entidade forte e repre- sentativa. Desde então, a entidade, nascida para zelar pela edição de jornais e revistas de empresa, ganhou peso e mus- culatura para um novo e expressivo salto, que a mantém em ascensão desde então, sempre inovando e se fortalecendo, permitindo que a atividade viesse a participar do andar de cima das organizações. Mais tarde, com a reeleição de Lula à Presidência da Re- pública – com quem tinha se relacionado bem, apesar do an- tagonismo, na época de indústria automobilística –, Miguel assumiu o Ministério da Indústria e Comércio até o fim do mandato, em 2010. Hoje mantém consultoria de comércio exterior e assuntos institucionais, a BMJ. “Mas continuo sen- do jornalista”, insiste. Nosso primeiro C-Level Miguel Jorge

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