DESEMBARQUE PROGRAMADO Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2024 338 Inteligência emocional A também paulista Paula Kasparian entende de imigração. Afinal, durante quatro anos e meio esteve à frente da Diretoria de Marketing do escritório norte-americano do grupo D4U. Morando na praia Delrey, perto de Boca Raton, na Flórida (EUA), Paula está em período de transição de carreira (período de no compite acordado com a empresa, até setembro). No Brasil, teve passagens pela Estruturadora Brasileira de Projetos (EBP) e agência Burson-Marsteller. Jornalista com pós-graduação pelo Centro Universitário Sant’Anna, tem especializações em Políticas Públicas pela Universidade de São Paulo (USP) e em Comunicação Corporativa pela Pontíficia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Ela é mais uma que deixou o Brasil por questões de segurança – em um período de seis meses, alguns vizinhos foram assassinados em assaltos no Morumbi, onde morava. Houve ainda o desejo de uma mudança profissional e que demandaria fluência em inglês. Combinou com o marido Israel Vitor Inocencio, administrador de empresas, que caso um dos dois saísse de onde trabalhava o outro pediria demissão e iriam embora. Quando a oportunidade surgiu, optaram pelos Estados Unidos e dedicou dois anos aos estudos para obter o visto de trabalho e continuar em comunicação ou marketing. Com a experiência adquirida, Paula aponta pontos importantes: “Você está indo para outro país e é preciso ter respeito à cultura local. Entre no jogo que vai facilitar sua imersão. Se é proibido beber em público, não quebre a regra. Porque, além disso, difamará a sua origem. Aprenda o idioma e invista em inteligência emocional para entender o ambiente e as relações sociais”. E complementa: “A saída do país não acaba com os problemas; eles apenas mudam de endereço. Os desafios serão outros e, portanto, é importante pesar o que é importante para você e a família”. Segundo ela, com o passar do tempo, o ser humano tende a romantizar o sofrimento. Por isso, decidiu fazer uso de um interessante exercício aprendido com um professor: descrever a situação e os motivos que levaram à tomada de decisão. E para quê? “Para que na hora em que eu estivesse passando por perrengues aqui nos Estados Unidos, eu lesse e me perguntasse: você quer voltar para isso? Depois dos perrengues passados, a pessoa torna-se mais forte e resiliente”. Ao comparar a comunicação praticada no Brasil com a dos Estados Unidos, Paula acrescenta um ponto aos já apresentados: o lobby. “É uma profissão regulamentada e bem remunerada, até porque o lobista em verdade é um RP sênior. Ele cria uma estratégia para atender a demanda do cliente junto a diferentes escalões governamentais e usa as ferramentas de comunicação em seu trabalho, valendo-se das soluções criativas que a nossa atividade possui. Trata-se de uma profissão com campo vasto e que, no Brasil, quando for regulamentada, abrirá um leque de oportunidades para os profissionais de comunicação”. Após horas de conversas com colegas espalhados pelo mundo, fica a certeza de que a comunicação praticada por nós, brasileiros, é de alta excelência e é preciso que nos apropriemos cada vez mais desse valor, ampliando a valorização de nossas competências e elevando a autoestima. Fica uma certa tristeza por perceber que segurança e qualidade de vida motivam a saída de tantos brasileiros. Sonho? Que isso não mais seja motivo para os brasileiros imigrarem e que as pessoas decidam pela partida apenas por desejo de crescimento profissional e melhoria pessoal. O mundo é realmente uma ervilha e temos sempre a chance de nos encontrarmos na próxima esquina, celebrando a vida com um gostoso café, uma cerveja estupidamente gelada ou um delicioso vinho, regado a uma boa conversa. Paula Kasparian em Dubai
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