Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2024

Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2024 272 IMPRENSA e RP o online, um glutão insaciável de informações, o tempo foi claramente o ponto que mais ficou rareado para os jornalistas. As formas de comunicação entre imprensa e agências/empresas modificaram-se. Durante e pós-pandemia, telefones fixos deixaram até de ser usados em algumas redações. A migração para a comunicação quase totalmente digital foi necessária, agilizou a interação, e trouxe também uma série de efeitos colaterais. Dados da pesquisa anual Estado do Jornalismo na América Latina, com base em respostas de mais de 300 jornalistas na região, realizada pela agência Latam Intersect PR, em 2023, apontam que 61,5% dos jornalistas entrevistados consideram as redes digitais essenciais para o seu trabalho como um meio de rastrear informações e se conectar com porta-vozes, especialmente quando se trata de atividades como respostas escritas rápidas a uma questão específica, entrevistas gravadas via smartphone e perfis pessoais de redes sociais de porta-vozes. Ocorre que o remédio já está em uma superdosagem e começa a se transformar em veneno... “Há um desequilíbrio na quantidade de jornalistas e de assessores que querem emplacar as notícias de suas empresas”, contextualiza Hugo Cilo, redator-chefe da IstoÉ Dinheiro. “A consequência disso é que o jornalista, na redação, não consegue mais atender à demanda. É humanamente impossível e isso me causa uma sensação de frustração. Recebo em média 1.200 e-mails e 700 mensagens de WhatsApp por dia com sugestões de pauta ou cobrança sobre o que já me foi enviado. Estou na IstoÉ Dinheiro há 16 anos e para entender esse fenômeno é simples: hoje a equipe é 80% menor do que era, mas o editorial só foi reduzido em 30%. A verdade é que todos cortaram”. Ele conta que um jornalista da redação foi abordado durante o velório de seu sogro por ligação de WhatsApp e mesmo explicando o cenário, ainda ouviu que se “mesmo assim” não daria para alterar o título de uma nota de que o cliente não havia gostado. “Às vezes são abordagens hostis. As empresas têm de entender que não podem utilizar as agências como tropa de choque. Colocam os mais jovens na linha de frente, mas é um engano achar que isso não irá impactar negativamente a imagem da própria empresa”, observa Hugo Cilo. As agências sofrem pressão pela manutenção das contas (empresas), que garantem mais estabilidade aos seus balanços. No entanto, a relação com os jornalistas é um de seus principais ativos, seu diferencial para o alcance da visibilidade das empresas que representam. Portanto, é importante entender os impactos de abordagens hostis ou despreparadas com a imprensa; afinal, quem gera reputação também tem de se preocupar com a própria. Ana Estela de Sousa Pinto, editora de economia do jornal Folha de S.Paulo Hugo Cilo, redator-chefe da IstoÉ Dinheiro

RkJQdWJsaXNoZXIy NDU0Njk=