Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2024 249 isso. Mas não é o foco dos projetos”, conforme o exemplo de Renata Chagas. Em todos os programas, o treinamento mais frequente é para o empreendedorismo, o controle da qualidade do produto e, principalmente, a capacidade de expandir o conhecimento adquirido. “Há o interesse em multiplicar. Pode haver uma ação no Rio de Janeiro que funcione muito bem em Belém”, diz Sílvia Finguerut. E multiplicar depende de comunicação. “Se são as pessoas a chave para gerar resultado nas empresas, os talentos a serem contratados e as empreendedoras que fazem acontecer novos negócios, somente elas podem construir uma agenda de governança corporativa honesta e bem-intencionada. Somente elas decidirão por dilapidar o patrimônio ambiental ou viabilizar operações que conservem ecossistemas de forma cuidadosa”, diz Luiz Gaulia. “Tudo depende de gente”. Tendência: o financiamento ESG Recentemente, reportagem do jornal Valor Econômico expôs opinião de Larry Fink, CEO da BlackRock, talvez a maior gestora internacional de ativos. Depois de lutar durante vários anos para que os fundos de investimentos nas empresas levassem em conta fatores ambientais, sociais e de governança, Fink eliminou a sigla ESG de seu vocabulário. Referência são os repórteres Jack Pitcher e Amrith Ramkumar, ambos do The Wall Street Journal. Este último, setorista de finanças do clima, cobre os investidores que pagam pela transição para a energia limpa. Assim também a agência de notícias Dow Jones Newswire. A convicção de Fink deu um susto no mercado de financiamento às empresas, por seu olhar de investidor na transição para os que operam com energia renovável e sustentável. Sabe-se que desde 2016 os bancos da União Europeia injetaram cerca de 256 bilhões de euros em setores que ameaçam o clima e a natureza. A ideia é que esta atitude não prossiga. No primeiro momento, ESG continua no radar e a tendência é de que se fortaleça. Porém, cada aspecto que compõe a sigla – ambiental, social e governança – não mais deverá ser autônomo, e sim integrado como um só conceito. E, mais do que tudo, sujeito ao financiamento das operações. Se os bancos de investimentos não cobrarem, por que aderir? Esse movimento deve-se em parte à pressão de ONGs globais muito ativas. Como o World Wide Fund for Nature (WWF) ou o Fundo Mundial Para a Natureza – que propõe ações de incidência política e de justiça socioambiental. Também o Green Peace, que demanda soluções sustentáveis na sociedade e, em recente investigação, aponta irregularidades na concessão do crédito rural na Amazônia. E ainda, The Climate Reality, de Al Gore, ex-vice-presidente norte-americano, exigindo que as empresas seguissem o que estiver estabelecido na lei. As leis são locais, mas seguem padrões globais. A decisão do Brasil de não comercializar soja nem carne – moratórias de 2006 e 2010 – provenientes de áreas de desmatamento não veio de repente. Os países compradores de nossos produtos exportados assim o exigiram. Progressos foram feitos, mas ainda é preciso avançar. Daqui a algum tempo – pouco tempo – a sustentabilidade terá que entrar no tema do financiamento das atividades. Vão obter crédito apenas as empresas que realmente praticarem tais princípios. Problemas aparecem e sempre existirão, mas a responsabilidade social empresarial no Brasil está cada vez mais presente nas salas de reunião dos executivos, das lideranças e do conselho de administração. A área jurídica assume papel cada vez mais importante. O Poder Judiciário é capaz de interromper, imediatamente, qualquer ação mal resolvida. O jornalismo pode denunciar, mobilizar a opinião pública, mas ambos – imprensa e formadores de opinião – não têm poder para deter efetivamente qualquer ação que cause maior dano. O momento é outro, agora todo mundo fiscaliza: o consumidor, a imprensa, a sociedade, enfim. (*) Cristina Vaz de Carvalho, formada em Comunicação Social pela PUC-RJ, tem cursos de extensão na Fundação Getulio Vargas (FGV). Desempenhou funções no jornalismo, na publicidade e nas relações públicas, às vezes simultaneamente. Foi gerente de planejamento da AAB/Ogilvy PR. Coautora do livro Publicidade AC/ DC - Antes e Depois do Computador, adotado em universidades do setor, está na newsletter Jornalistas&Cia há quase 30 anos, de início como repórter no Rio e depois como editora regional. Colabora com conteúdo para publicações, faz revisão de textos e traduções do inglês e do francês.
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