Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2024 230 DIVERSIDADE RACIAL analista de comunicação, cuidando da imagem de empresas”, conta. O desejo solidificou-se quando foi fazer estágio em uma agência comandada por uma gaúcha e uma paulistana radicadas em Salvador. “Elas foram minhas mentoras”, destaca. A transição de funcionária para empreendedora não demorou muito e deu-se por inúmeros fatores, incluindo a questão racial. É que, apesar de a cidade abrigar o maior contingente de afro-brasileiros do País, ela diz que os pretos e os pardos não chegavam a 20% do total de funcionários em todas as assessorias pelas quais passou. “Nunca me sentia integrada, de fato, aos locais nos quais trabalhei. E isso acabou me causando um sofrimento psíquico que deixou marcas até hoje”. Luciana conta que, no entanto, jamais viveu uma situação de racismo explícito, como a sofrida pela colega paulistana Iza França. O fruto do desgaste foram as microagressões cotidianas, responsáveis por intensificar o processo de desumanização, que é ainda mais severo quando se trata das mulheres negras. Em muitos casos, elas se sentem compelidas a mudar o corte do cabelo ou a adotar roupas que disfarcem o tamanho dos quadris. “A falta de diversidade faz com que nos sintamos obrigadas a nos moldar à imagem e semelhança dos chefes imediatos ou donos da empresa”. Como morava com os pais e trabalhava apenas para bancar as despesas pessoais, Luciana lançou-se em voo solo. No período de transição para empreendedora, ela foi inserida por amigos em uma rede focada na valorização de negócios tocados por homens e mulheres negros da cidade. Na época, temas como Black Money, iniciativa que prega a circulação de riquezas na comunidade, e a filosofia Ubuntu, baseada na força do desenvolvimento coletivo, funcionavam como catalisadores para os afro-empreendedores. Atualmente, sua agência está hospedada no coworking Hub Salvador e atende majoritariamente a startups e negócios de impacto social, como a Wakanda Educação, sensação na edição 2020 do programa Shark Tank. “Metade dos meus clientes são oriundos da comunidade afro-brasileira, mas a meta é chegar a 80% para ficar em linha com o perfil da cidade”, destaca. Na seara do Black Money, uma das agências mais conhecidas no cenário nacional é a Oliver Press, da paulista Juliana Oliveira, outra “herdeira de Glória Maria”. O curioso é que ao abrir a assessoria, em 2015, ela não pensava em se especializar nesse filão. “As coisas foram acontecendo de modo orgânico e, como fui repórter de tecnologia, acabei sendo procurada por diversos empreendedores afro-brasileiros que estavam lançando startups ou fazendo a transição digital de seus negócios”, recorda. Ganhos com a diversidade No hiato entre a geração representada pelo carioca Ivan e a paulistana Silvana e o grupo formado pela soteropolitana Luciana e a paulistana Juliana ocorreram inúmeros fatores conjunturais que ajudaram a redefinir a forma como a sociedade se organiza. Se é inegável que persiste o racismo institucional, todas as pessoas ouvidas para esta reportagem acreditam existir, hoje, um ambiente mais propício à diversidade. Os motivos incluem desde a demanda social (zeitgeist) até a percepção em relação aos potenciais ganhos financeiros advindos desse processo. Nesse último caso, um marcador importante foi a pesquisa Why Diversity Matters (Porque a Diversidade Importa, em tradução literal), realizada pela consultoria americana Mckinsey. O estudo, datado de 2015, indicou que as empresas com times etnicamente variados teriam retorno 35% maior em relação aos concorrentes. Juliana Oliveira, cofundadora e CEO da Oliver Press
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