Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2024 228 DIVERSIDADE RACIAL Herdeiras de Glória Maria E foi nesse contexto altamente desafiador que muitos jovens ingressaram na faculdade e desenvolveram suas carreiras em comunicação, nos últimos 30 anos, atuando tanto nas redações quanto nas assessorias de imprensa. No primeiro caso, uma das grandes inspirações foi a jornalista Glória Maria (1949-2023). Sua contínua presença no vídeo, a partir de 1971, e sua condição de popstar funcionaram como um farol para uma legião de mulheres negras interessadas na profissão. Uma delas foi a paulistana Silvana Inácio, sócia-fundadora da Silvana Inácio Comunicação (SI Comunicação). “Fui a primeira da família a ingressar no curso superior. A minha mãe queria que eu fizesse Direito, mas meu desejo era cursar História. Como as vagas eram poucas, inclui na ficha de inscrição o Jornalismo, como segunda opção, e acabei passando no vestibular do Centro Universitário Braz Cubas”, conta. A escolha da universidade deu-se de forma pragmática e levou em conta um valor de mensalidade que coubesse no salário da então funcionária do setor de cobrança do Bradesco. Para vencer a distância entre o trabalho e a faculdade, em Mogi das Cruzes, na região Metropolitana de São Paulo, Silvana valia-se do trem, apelidado de “navio negreiro”. Não pelas condições degradantes, mas pelo fato de concentrar um grupo expressivo de homens e mulheres negros que estudavam à noite e cumpriam o mesmo trajeto. Em um ambiente de cumplicidade, eles se sentiam seguros para debater sobre política e questões raciais. “Nós víamos aquele trem como um navio negreiro que nos levaria ao futuro”, lembra. Ao contrário da paulistana Silvana, o carioca Ivan Accioly, sócio-fundador da IAA (Ivan Accioly & Associados Comunicação e Eventos) debutou no mercado de trabalho em 1982, já em uma atividade ligada à sua área de graduação e antes mesmo da formatura, em 1985. Passou por jornais de bairro e fez estágio na Secretaria Municipal da Saúde do Rio de Janeiro, até que a convite de um colega da turma de Jornalismo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) foi contratado para a área de comunicação da Prefeitura. Como na época os jornalistas trabalhavam em jornadas de cinco ou sete horas, ele conseguiu conciliar o emprego na assessoria com posições em veículos, como Jornal do Commercio, revista Manchete e Rádio Roquete Pinto. Isso lhe permitiu ampliar a lista de contatos, o tal networking, e solidificar sua formação, ao unir a prática do dia a dia em duas funções: assessoria e reportagem. Seguiu nesse esquema até 1988, quando o vice-prefeito Jó Rezende (PSB), eleito na chapa encabeçada por Saturnino Braga, decidiu candidatar-se à sucessão municipal. “Ele me chamou e fez uma proposta financeira interessante para que eu atuasse com dedicação integral. Aceitei na hora”, lembra Ivan. A experiência, porém, durou poucos meses, pois em 15 de setembro a Prefeitura decretou falência, inviabilizando a nascente candidatura. A volta às redações deu-se com o fim do governo, mas foi interrompida por outro convite, em setembro de 1991, para implantar e coordenar a assessoria de imprensa do Sebrae-RJ. Ficou lá até 2005 quando, num Programa de Demissão Voluntária (PDV), resolveu que era o momento de se tornar empreendedor de comunicação. Ivan e Silvana representam uma pequena legião de desbravadores em uma época em que a comunicação corporativa começava a ganhar envergadura e na qual a presença de afrodescendentes era diminuta, no geral, e quase inexistente em cargos executivos ou como empreendedores. A expansão desse segmento da comunicação e as mudanças impostas pela internet aos veículos analógicos, a partir de 2000, deslocaram paulatinamente o eixo da geração de empregos para jornalistas. A força das agências de comunicação é corroborada pelo estudo assinado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), com base nos dados da Relação Anual de InSilvana Inácio, sócia-fundadora da SI Comunicação © Carlos Torres
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