Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2023

REDES DIGITAIS Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2023 350 ouvir essas conversas públicas para identificar novas tendências ou até mesmo crises emergentes para sua própria reputação. Pelo menos as grandes empresas construíram capacidades correspondentes e seguem os discursos na rede muito de perto. Quem constrói uma boa reputação nas redes sociais e sabe como elas funcionam também se posiciona melhor em caso de crise. Anuário – De acordo com as análises da Unicepta, existe uma rede social de maior confiabilidade a ser utilizada pelas empresas e seus executivos? Freese – A questão dos canais de mídia social confiáveis ​varia de país para país. Em geral, porém, pode-se dizer que o LinkedIn estabeleceu-se como o canal preferido das empresas e seus CEOs na maioria dos países industrializados. Isso porque as discussões costumam ser menos acaloradas do que em outros canais e porque os usuários comunicam-se mais em um ambiente B-to-B devido à sua origem como uma rede de carreira. Mas isso não significa que as empresas possam contar apenas com esse canal. Porque tudo o que se fala hoje nos meios de comunicação pode influenciar o seu próprio sucesso, por isso é importante que as empresas saibam também o que se fala fora do seu ambiente habitual. Vemos que muitas empresas estão aproveitando as possibilidades tecnológicas para identificar todos os eventos relevantes o mais rápido possível e não perder nada. Como uma empresa de inteligência de mídia, monitoramos e avaliamos mais de 460 milhões de fontes de mídia tradicional, digital e social e apoiamos empresas e organizações a decodificar narrativas em vários tópicos. As questões-chave incluem: quais fatores determinam um discurso, quais são os condutores de uma narrativa e como as empresas e organizações podem reagir. Anuário – O Brasil é um dos três maiores países do mundo na utilização das redes sociais, de acordo com as mais recentes pesquisas (são 127,4 milhões de usuários únicos, segundo dados da estado-unidense Comscore). Os brasileiros repetem os mesmos padrões de comportamento nas redes na comparação com outros países? Freese – Podemos observar uma tendência crescente no uso das mídias sociais. Em China, Índia e Estados Unidos, o número de usuários conectados às redes sociais é bastante expressivo. De acordo com um estudo realizado pela Statista, a projeção para 2027 é que esses países ocupem as primeiras posições do ranking. A China deve atingir o número de 1,21 bilhão até 2027. O Brasil deve subir 23 milhões nos próximos quatro anos. Em relação aos países europeus, a tendência também é crescente, mas ainda há um número menos expressivo de usuários conectados, como, por exemplo, Alemanha, França e Itália. Uma possível razão para isso são as preocupações com a segurança dos dados pessoais e um maior consumo de mídia tradicional. Anuário – Como o ChatGPT pode afetar a reputação das empresas? Freese – Atualmente, o ChatGPT é formado por dados históricos até o final de 2021, ou seja, o modelo não pode levar em conta as informações mais recentes. Nesse sentido, as respostas do ChatGPT serão um reflexo do que foi comunicado publicamente sobre uma empresa na web até 2021. Já o modelo irmão no Bing consegue levar em conta as últimas notícias do dia anterior. Em breve, isso também acontecerá com o ChatGPT. Significa que toda a comunicação pública sobre uma empresa influenciará as probabilidades do que o ChatGPT diz sobre ela e sua reputação. Como o ChatGPT e outros grandes modelos de linguagem criam especificamente variações em suas respostas, isso significa que, como empresa, podemos apenas mostrar e otimizar o banco de dados, ou seja, o que está escrito sobre nós na internet. Também houve as primeiras experiências bem-sucedidas em influenciar o ChatGPT com as próprias postagens públicas, para que tenham mais chances de serem incluídas na resposta. Anuário – A inteligência artificial será o “censor” mais eficiente para evitar fake news no futuro? Freese – A tarefa da IA ​é coletar, processar, organizar e resumir informações. Os modelos que conhecemos atualmente já são muito bons, mas não devem ser mal utilizados como motor de pesquisa. Esses modelos podem, supostamente, compilar fatos, mas isso é uma armadilha de pensamento, pois eles geralmente calculam apenas probabilidades de sequências de palavras. Fatos corretos podem surgir disso, mas nem sempre acontece. Os modelos atuais ainda não são capazes de distinguir entre absurdos que podem ser encontrados na internet e descobertas científicas comprovadas. A força da IA está na compreensão de texto. Se você der a eles um texto longo e abrangente e fizer uma pergunta sobre ele, geralmente obterá os trechos certos e bons resumos. Portanto, a inteligência humana ainda é necessária para a avaliação final e contextualização de informações e textos. (*) Renato Acciarto é jornalista, pós-graduado em Gestão pela FEI (Faculdade de Engenharia Industrial), com MBA em Marketing Executivo pela ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing). Repórter e editor em veículos relevantes, como o jornal de negócios Gazeta Mercantil, no universo corporativo já atuou na gerência de comunicação corporativa em multinacionais como Mercedes-Benz, General Motors e Volkswagen. Na GM, por exemplo, atuou na equipe de Mídias Sociais na matriz da General Motors, em Detroit; e na VW, na Gerência de Comunicação Digital, sendo responsável pela construção de uma rede de influenciadores digitais e pela digitalização da Comunicação Interna da Empresa.

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