Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2023 309 Depois de um longo intervalo ditado pela crise político-econômica doméstica e as incertezas geradas pela pandemia da Covid-19, o Brasil e a América Latina, tudo indica, voltam a figurar nos planos de expansão dos grandes conglomerados internacionais de relações públicas (RP), que ocupam hoje, segundo o Anuário da Comunicação Corporativa, oito das dez primeiras posições do ranking nacional do setor – cinco a mais do que em 2012. Os negócios e tratativas ainda estão em escala inferior à registrada no início da última década, quando, entre outras transações de vulto, a Cohn & Wolfe arrematou a Máquina da Notícia, criando a Máquina CW (hoje integrante, ao lado da BCW Brasil, do Grupo BCW Brasil) e a Omnicom tornou-se titular do Grupo ABC (CDN Comunicação inclusa). Os sinais de retomada, contudo, são inequívocos. Um exemplo recente foi a aquisição da argentina Retargetly – referência na promoção de campanhas digitais programáticas em Brasil, México, Chile e Colômbia – pela estadunidense Epsilon, companheira da MSL Andreoli no portfólio do grupo francês Publicis. Outro foi a compra pela Hill+Knowlton do grupo britânico WPP – controlador dos grupos Ideal, BCW e Hill+Knowlton – da JeffreyGroup, que conta com escritórios em Miami, cidade do México, Buenos Aires, Rio de Janeiro e São Paulo, e que com a negociação passou a fazer parte do Grupo Hill+Knowlton. No caso do Brasil, vale ressaltar, as duas marcas (H+K e Jeffrey) permanecem independentes e ambas reportam-se diretamente a Miami. “Os grupos estrangeiros ficaram receosos de investir num país cuja imagem internacional ficou arranhada e se tornou, como disse com orgulho um ministro do governo anterior, um ‘pária internacional’”, comenta Carlos Henrique Carvalho, ex-presidente executivo da Abracom (Associação Brasileira das Agências de Comunicação). “O quadro agora é bem distinto, com novos negócios surgindo e rumores de interesses de agências americanas e, sobretudo, europeias”. Alguns fatores dispostos no tabuleiro desde janeiro vêm contribuindo para impulsionar essa movimentação. Os principais são a formulação pela Administração Lula de uma política econômica palatável ao mercado, o ambiente de maior segurança jurídica – com o fim, desde a posse do novo governo, da campanha sistemática de ataques do Executivo Federal ao STF (Supremo Tribunal Federal) e a outras cortes – e a reinserção do Brasil na agenda ambiental global. Um marco a respeito foi a apresentação, na primeira quinzena do ano, da candidatura de Belém a sede da COP30, a Cúpula sobre a Mudança do Clima da ONU (Organização das Nações Unidas) em 2025. “O Brasil reúne todas as condições para se tornar referência em economia e títulos verdes, agricultura e energia sustentáveis, o que abre mais espaço para as agências de comunicação no segmento ESG”, diz Carvalho, que aponta o câmbio como único entrave para o início efetivo de uma nova onda de aquisições no mercado local de RP por grupos internacionais. “Se o real desvalorizado torna mais baratas as agências brasileiras, também joga para baixo as suas receitas em moedas fortes, inibindo compradores estrangeiros – especialmente aqueles com ações negociadas em bolsas de valores, que são cobrados por resultados de curto prazo”. Duas exceções à regra são o WPP e o Publicis, que, sem dar bola às oscilações do real frente ao dólar e ao euro, vêm ampliando suas operações no País há algum tempo. Detentor de 70% da Ideal H+K desde 2015, o primeiro arrematou os 30% restantes em setembro último, simultaneamente à compra da JeffreyGroup, e anunciou a transformação do negócio criado em 2007 pelos brasileiros Ricardo Cesar e Eduardo Vieira em uma das marcas do seu portfólio global, invertendo o tradicional fluxo de chegada dos estrangeiros ao País e preparando o Ideal para ousadas operações internacionais. Dois anos antes, o gigante britânico já havia surpreendido o mercado com o relançamento local da Hill+Knowlton, uma das marcas mais fortes e tradicionais do universo de RP, que havia sido colocada na gaveta em 2015. Hoje em contagem regressiva para inaugurar seu escritório exclusivo na região da Faria Lima, em São Paulo, a agência reiniciou as operações no País com clientes herdados da Ogilvy PR, alguns cedidos pela Ideal H+K e outros trazidos por seu CEO, o jornalista Marco Antonio Sabino, que acumula no currículo passagens em cargos de comando em Young&Rubican PR, S/A Llorente & Cuenca e na S/A Comunicação, da qual foi fundador. “O processo de decolagem da Hill+Knowlton Brasil foi rápido e consistente”, conta Sabino. “Desde então, estamos ganhando musculatura: no último ano, as receitas quase dobraram e a carteira, hoje composta por 52 clientes, só contabilizou acréscimos. Não perdemos uma única conta”. Subordinado desde o fim do último ano ao CEO das operações da Hill+Knowlton Latam e da JeffreyGroup, o estadunidense Brian Burlingame, executivo fluente em português e espanhol e que assumiu a nova posição após 22 anos e meio de JeffreyGroup, Sabino busca ampliar o
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