Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2023 281 que basicamente serviam para fornecer profissionais de comunicação para trabalhar nos órgãos públicos, como se fossem agências de empregos. Uma das bandeiras iniciais da Abracom, em seus primeiros contatos com a Secom, ainda no Governo de Fernando Henrique Cardoso, e, depois, já nos primeiros meses da Gestão Lula, era acabar com essa subcontratação e promover licitações para contratar serviços de comunicação corporativa e não apenas fornecimento de mão de obra. Mas essa realidade demorou a mudar. Apesar de algumas iniciativas pontuais, como a do Porto do Pecém, no Ceará, e alguns ministérios, com contratações de pequeno porte, a prática da subcontratação continuava dominante e não era vista como ilegal pelos órgãos de controle. A virada inicial veio com o escândalo do Mensalão, revelado pelo ex-deputado Roberto Jefferson. Feita a denúncia, uma CPI foi instaurada para investigar os contratos dos Correios (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos). Na chamada CPI dos Correios, uma subcomissão, cujo relator era o então deputado federal José Eduardo Cardozo (PT-SP), debruçou-se sobre os contratos de publicidade, especialmente aqueles que tinham a agência de Marcos Valério como beneficiária. Foram descobertos desvios de recursos por meio das verbas publicitárias, com notas falsas, serviços que não foram prestados ou foram superfaturados e que chegavam às mãos de deputados e senadores como caixa 2. Enquanto isso, no TCU (Tribunal de Contas da União), outra investigação, agora sobre as verbas publicitárias da Embratur, chegou à conclusão de que a forte concentração de subcontratações pelas agências de propaganda dava margem a zonas cinzentas e possíveis superfaturamentos. O TCU ouviu as entidades do setor de comunicação, entre elas a Abracom, e entendeu que serviços alheios à atividade publicitária deveriam ser contratados por licitações específicas. Em 2006, o TCU publicou o Acórdão 2062/2006, que determinou a separação das contas. Imediatamente, a direção da Embratur começou a abrir licitações específicas e surgiu o contrato que é apontado como pioneiro para o setor de comunicação corporativa: uma licitação na modalidade técnica e preço para prestação de serviços de RP e assessoria de imprensa no exterior, divididos em lotes de países, com o objetivo de divulgar o turismo brasileiro em mercados estratégicos. Uma guinada na política de comunicação da Embratur, pois as ações junto a públicos específicos passaram a ser mais importantes do que propaganda nos veículos internacionais. Divulgar o “destino Brasil” passava a ser uma tarefa das agências de relações públicas. Foi nesse período que algumas agências começaram a se estruturar para atender ao poder público como uma unidade de negócios. É o caso da FSB, como lembra seu sócio-diretor Renato Salles: “Ali, a empresa teve a visão de que o governo poderia ser um bom cliente e a decisão foi de investir nesse segmento”. A agência foi uma das vencedoras da licitação internacional da Embratur, junto com a Ogilvy PR, hoje Hill+Knowlton, que ainda atendem a essa conta, e com a Máquina da Notícia, hoje Máquina CW, integrante do Grupo BCW Brasil. Empresas com sede em São Paulo e Rio de Janeiro começaram a ampliar seus escritórios brasilienses e colocaram de vez um pé na Capital Federal. Mas os obstáculos continuaram grandes. A prática da subcontratação ainda não estava proibida por lei. Além de ministérios, governos como o de São Paulo montavam suas equipes de assessoria de imprensa por meio de contratos publicitários, remuRenato Salles, sócio-diretor do Grupo FSB
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