Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2023 275 Escrito em chinês, o ideograma wei-chi para crise é composto por outros dois caracteres, um que representa perigo e outro, oportunidade. A ideia chegou à comunicação por meio de assessores do ex-presidente norte-americano John Kennedy e passou a ser usada por políticos e nos discursos motivacionais pelo mundo. “Na hora, não se consegue pensar assim, mas é isso [o ideograma]”, afirma Carina Almeida, da Textual. “Dizer que aprendeu e vai aprimorar não é fragilidade. As pessoas em geral entendem um erro da empresa, pois ninguém está livre de uma crise”. O que não se admite mais, prossegue, é minimizar a dificuldade, dizer “isso não é comigo”. Apesar de reconhecer a utilização ampla de a máxima de crise corresponder a oportunidade, o consultor João José Forni não segue essa linha. Acredita que a empresa não pode ficar esperando uma crise para fazer os ajustes necessários, prevenir e corrigir o que pode desencadear eventos negativos, que ameaçariam o futuro da empresa. Mas admite que a crise pode ser um break even point para dar uma sacudida na organização, corrigindo atos de gestão equivocados e ultrapassados. Nesse quesito não há unanimidade. “Quando a crise eclode, a oportunidade ficou para trás”, pensa Marcelo Mendonça, da Fato Relevante. Assim, ficaram para trás todas as atividades de prevenção e preparação que poderiam reduzir os impactos da crise na reputação, nos negócios e na sustentabilidade da organização. “Crise é crise”, diz também Claudia Vassallo, da Nova PR. “São momentos difíceis na vida de qualquer organização e que gostaríamos que não ocorressem. A única real oportunidade de uma crise é a possibilidade de aprendizado”. Fernanda Dabori, da Advice, concorda em parte: “É possível, mas tudo depende do tamanho da crise”. Passado o período agudo, é preciso pensar em um reposicionamento. Simone Iwasso, do BCW Brasil, concorda que crise é crise, mas pode ser oportunidade se a companhia estiver disposta a corrigir o que a levou àquela situação e aproveitar o momento para promover uma transformação efetiva. O mais difícil, porém, é enfrentar a crise, desde o início, com estratégia, com ações pensadas no futuro. As agências, pragmáticas, sem dúvida consideram crises em geral como uma boa oportunidade para seus serviços. É o momento em que a comunicação é mais valorizada. Quando a senioridade consistente pode ser aplicada. Myrian Vallone, da 2PRÓ, insiste: “Por mais que se tenha evoluído, ainda se vê certa negligência em relação à comunicação, todo mundo acha que entende de comunicação. Mas a crise exige um componente de quem está atuando, para aguentar o tranco e fazer valer o conhecimento. Uma crise de cauda longa precisa ter gente de fôlego”. Cleinaldo Simões, que se considera um ‘sincericida’, afirma: “Faço isso porque me sinto desafiado intelectualmente”. No perfil de quem faz gestão de crise, ter conhecimento é importante, mas principalmente certa frieza para lidar com aquilo. Sobretudo no contato com o cliente, já que, em algum momento, será preciso pôr um freio, tentar impedir certas decisões, recomendar o que for melhor para ele, mesmo quando ele não concordar. E nem todos aderem à possibilidade de aprender, assinala Denise Carvalho, da Agência Blue Chip: “Precisamos dizer isso com muita delicadeza, porque o cliente às vezes não entende. Menospreza reclamações dos stakeholders, acha que o fato de ter uma vida reservada restringe a exposição na imprensa, ignora que o jornalista também fala com a concorrência e sabe de tudo o que se passa no setor”. A maioria, porém, concorda que a crise pode, sim, resultar em oportunidade. “Todo mundo aprende”, é o que pensa Anaí Nabuco, da Lettera, e acredita que é possível fazer do limão uma limonada. Vê que as empresas em geral amadurecem a relação com outras empresas e com o mercado. Embora o ideal seja não ter uma crise, porque sempre ficam arranhões em quem levou um tombo. Também o aprendizado em conjunto com o mercado é a visão de Mariana Scalzo, da Arcos Dorados/McDonald’s: “Com a crise sob controle, o próximo passo é focar no aprendizado, não só internamente, mas também com o mercado, uma vez que esse é um desafio inerente a nossa área e podemos avançar juntos com a
RkJQdWJsaXNoZXIy NDU0Njk=