Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2022 293 bém está atenta à condição da mulher na relação do trabalho. Ela percebeu a crueldade do assédio que mistura o poder com a ignorância quando se sentiu sozinha e desligada da sensação de pertencimento: “Nunca tinha me dado conta do que representava essa condição até aceitar um desafio em Porto Velho, no meio da Amazônia, num canteiro com 20 mil funcionários, de maioria masculina. Virei a menina da comunicação”. Filha de jornalista e acostumada ao ambiente misto, liberal e acolhedor com as mulheres, ela começou a entender o seu papel na comunicação quando tomou consciência do impacto que faz uma mulher sentar-se na cadeira que influencia o público de uma grande organização: “Eu realmente acredito que pessoas bem informadas tomam decisões melhores e fazer isso dentro de uma organização tem um impacto social importante”. Claudia Jordão, líder de Comunicação e Marketing na Edelman América Latina e Edelman Brasil, exemplifica como é difícil lidar com tabus corporativos, como as mães de primeira infância, que provocam polêmicas relacionadas a gestão de tempo e relações de poder. “Eu não queria ser tratada diferente porque era mãe, mas eu devia ser tratada diferente porque sou mãe”, comenta. Na época em que seu filho era pequeno e ela mantinha a insana rotina jornalística de fechar capa, diz que entraria em pânico se o cuidado de tratar as mães existisse. Sim, porque a sociedade de certo modo a forçava a não querer apoio para educar o filho. A consciência feminina de aprender a andar de forma colaborativa, ocupando espaços de liderança e abrindo oportunidades para quem não teve os mesmos privilégios de educação, raça e etnia, foi importante para ela encontrar o seu lugar no mercado corporativo. Para registrar esse aprendizado, Claudia aceitou fazer uma homenagem à liderança a que ela está submetida dentro da agência: “Adoro a frase ’ninguém solta a mão de ninguém‘ e amo quando ela se refere à convivência entre mulheres. É sobre sororidade, empatia, saber dividir desafios e méritos e entender que estamos no mesmo barco. Se remarmos juntas, chegaremos mais rápido e menos cansadas para enfrentar, do outro lado, o machismo e as ideias de que sabemos menos, podemos menos, somos cheias de opiniões, estressadas, loucas. Ao longo dos meus 20 anos de carreira, tive a sorte de ter como chefes mulheres incríveis, que me deram a mão sempre que precisei, fosse para algo do trabalho e mesmo pessoal. Daniela Mendes, Luisa Lima, Natalia Martinez, Ana Julião. As três últimas na própria Edelman. Quando entrei no mercado ouvia considerações de que para romper com o teto de vidro seria preciso ’agir como homem‘ e que a maternidade era ’atraso de vida‘. Hoje tenho a clareza de que características tão fortes do feminino, como se importar, cuidar e ser sensível – e às vezes até sentimental e chorona − não são fraquezas, são forças. Sigamos remando”. Claudia Jordão
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