Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2022 290 ARTIGO se inicia com a transformação da vontade de quem deseja empreender, passa pela necessidade de a líder receber apoio e enfrentar as resistências para atingir o objetivo. São quatro marcos: transformação, apoio, resistências e objetivo. A escolha foi colocar as três agências mais recentes relacionadas ao último grupo, sinalizando-as com a qualidade da força do tempo, logo, representantes do espírito novo, que caracteriza o negócio, o qual transforma o setor e, consequentemente, pode ser uma das respostas sobre a proporção de ser mais feminino ou masculino nas suas entregas. São agências feitas, respectivamente, das seguintes características: consciência de luta de gênero, foco no feminino e raiz em alta tecnologia. Deduzir que o setor é feminino por ter mais mulheres que homens é ignorar o silêncio da luta, os significados da pirâmide e as influências da cultura patriarcal no nosso modo de ver as relações das agências com o corporativo e iludir-se de que há espaço para o feminino no corpo feito de mulheres. Ditadura no meio do caminho e o topo da pirâmide Cremilda Medina, jornalista desde 1964, que conta sua idade de 80 anos na sua obra acadêmica, viveu o golpe militar no dia da formatura na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Um elemento que mistura contos e revela a razão pela qual a visão de quem ultrapassou a floresta – depois que o caçador se apiedou da menina e pediu para que ela fugisse, como é o caso da heroína Branca de Neve –, parece até da Bela Adormecida, que passou séculos aguardando o beijo do futuro. “Minha trajetória já estava marcada por duas trilhas: a condição de mulher profissional e a condição de resistência cultural. Hoje está em voga debater e lutar por símbolos identitários como a questão da mulher. Para mim, que vivi os discursos feministas dos anos 1950-1960, a nova onda apenas reforça a luta contínua na história com tons mais altissonantes aqui e ali”. Cremilda ainda lembra: “Os tempos de repressão política representaram trilhas mais coletivas do que as vozes do cercado individual e feminino. A década exigiu muito mais resistência cultural – na qual homens e mulheres estavam engajados – do que afirmação feminista”. Ignorar esse fato histórico pode prejudicar nossa forma de olhar para o espelho. Esse dado torna compreensível a razão pela qual muitas mulheres que vieram depois de Cremilda demoraram décadas para perceber o que as jovens, hoje, denunciam como assédio. Neivia Justa é exemplo dessa mistura de contos. Ela demorou 25 anos para perceber que gênero é uma questão, sim, no setor da comunicação corporativa. Lidar com o espelho do ativismo quando se ocupa a liderança corporativa após a década de 1970 é viver um pouco a escuridão do sono histórico, que representou a ditadura seguida de uma democracia, que trouxe resquícios entre a luta silenciosa e a naturalidade da violência. “É uma questão de sobrevivência acreditar que aquilo faz parte e aceitar a cultura como um dado natural, sem questioná-lo”, conta Neivia. E traz um detalhe importante no seu discurso: “A comunicação é o meio com que eu transformo a realidade”. Neivia decidiu, em 2016, que seria “uma pessoa da comunicação que faz a revolução” e tem feito desde então. Criou os movimentos #ondeestãoasmulheres, #aquiestãoasmulheres, o que lhe Neivia Justa O PREDOMÍNIO DAS MULHERES
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