Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2022

Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2022 287 Quase 70% do corpo da comunicação corporativa é ocupado por mulheres. Será que os 30% restantes ocupam os espaços de poder das agências e equipes da comunicação? Associar o dado estatístico à imagem da pirâmide, que denuncia as questões sociais de gênero, parece lógico. Mas será que essa pirâmide é igual às outras? O que você vê diante do lugar que ocupa? A comunicação corporativa também é reflexo da sociedade que lida com a injustiça salarial da divisão de sexos no trabalho? A chegada das mulheres à liderança das agências mudou o cenário do século passado? Ou o setor herdou as realidades da predominância masculina na sala da chefia das editoras, na ala dos altos salários da publicidade dos anos 1990 e dos atuais hubs de tecnologia? Todas as mulheres entrevistadas para esta reportagem reconhecem a luta de gênero no ambiente de trabalho e sentem a força da quarta onda do ativismo, que denuncia os preconceitos da cultura patriarcal. Isso não significa que existe vivência comum de luta entre as líderes, consenso sobre o feminismo e suas necessidades e muito menos resposta para as perguntas acima. Por isso, o convite para quem lê é assumir o espelho mágico da rainha do conto de fadas da Branca de Neve para formar sua imagem sobre o que dizem os números da concentração de mulheres no setor da comunicação corporativa. Podemos deduzir, por exemplo, que a presença majoritária de mulheres significa que a atividade é uma entrega de um serviço considerado mais feminino do que masculino? Para assumir essa tarefa é bom situar o quanto você faz parte da imagem que vê no espelho – qual papel ocupa dentro do ecossistema da comunicação? − e como está envolvido ou envolvida com os conceitos de gênero – o quanto toma para si a luta das mulheres e se move para desenvolver consciência das atitudes preconceituosas, que mantêm o status quo entre o que é feminino e o que é masculino. O próximo passo é ficar atento ou atenta para discernir entre o espelho que é nosso, o que é meu e, finalmente, qual é o espelho que te limita naquilo que já carrega como imagem certa sobre tal estatística. Ou seja, o teu espelho. Célia Cruz, diretora executiva do ICE (Instituto do Centro Empresarial), que promove debates e fóruns sobre impactos sociais e tem conquistado a árdua tarefa de articular atores do ecossistema para criar alto impacto no Terceiro Setor, ensina que em sistemas complexos o caminho é aprender a encontrar a visão comum. Como ainda não é real uma leitura coletiva e interativa, que permite formar uma imagem comum para definir os impactos e significados dessa estatística, que possa delinear uma forma com qualidades humanas para o setor, a proposta é seguirmos alguns critérios para a leitura das 13 líderes de agências, uma profissional de média liderança, uma ativista consultora, uma pesquisadora e três executivas de multinacionais, consideradas clientes deste mercado. Os critérios são baseados nas dicas de duas consultoras de áreas diferentes: a diretora executiva do ICE (citada acima), que adota os cinco passos da Teoria da Mudança, e Regina Erismann, consultora de desenvolvimento humano e organizacional

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