Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2022 274 ARTIGO ção é complexa e os times de comunicação devem ficar bem atentos para gerenciar adequadamente isso. Não é de bom tom que algum empresário ou gestor tente constranger a opinião de colaboradores/ funcionários ou sugerir o voto em determinado candidato. Também não é recomendável estimular, no ambiente de trabalho, certas discussões e debates que oponham equipes internas em situações conflitantes. Todos somos cidadãos e temos a liberdade de nos expressar, mas isso deve ocorrer dentro de limites éticos, legais e do bom senso. Não há texto sem contexto. A atuação empresarial, nesse caso, requer uma análise detalhada de todos os contextos envolvidos. É necessário um trabalho de pesquisa e avaliação de cenários de maneira bastante cuidadosa, para que se tenham elementos que auxiliem na capacidade de prever situações que possam afetar a imagem institucional e até mesmo a credibilidade e a sobrevivência da empresa. Como serão eleitos, este ano, senadores, deputados federais e estaduais (e distritais, no caso do DF), além do presidente e governadores, os profissionais de relações institucionais e governamentais devem ficar atentos para a dança das cadeiras que pode ocorrer em diversos órgãos, entidades e autarquias nas esferas federal e estaduais, bem como eventuais mudanças de rotinas em relacionamentos e formas de acesso. Entender o cenário econômico e social e antever os impactos da eleição nas agendas de defesa de interesses é algo estratégico para uma empresa que queira ampliar ou manter seu nível de atuação, independentemente da área. O ciclo eleitoral é um importante componente nesse processo, pois tem impactos nos cenários político, econômico e social, no mapa de riscos e oportunidades, nas estratégias de abordagem e relacionamento, na interação com entes públicos, privados e com entidades de classe, no monitoramento de stakeholders e nos desafios de compliance e governança. Pode haver uma interação muito rica entre os profissionais de comunicação e da área de RIG na construção de uma base de dados sólida – com pesquisas, análise de cenários e contextos, estudos e levantamentos. Isso permite a definição e o alinhamento de narrativas internas, adequadas ao planejamento, calibrando a defesa de interesses no período eleitoral. Essa parceria entre as áreas proporciona ainda a verificação da necessidade de readequação e/ou de reorientação de estruturas envolvidas e embasa orientações a todos os profissionais da empresa, principalmente aqueles diretamente envolvidos no relacionamento com entidades e órgãos públicos e privados. Além de tudo isso, há uma outra diretriz que é vital: a manutenção dos fundamentos sólidos de relações governamentais e institucionais e de compliance. É preciso, constantemente, aprimorar processos no que for necessário, como estar sempre acompanhado de outra pessoa da empresa nos encontros com agentes públicos e registrar todas as interações com órgãos públicos, com o Legislativo e outras entidades e empresas, mantendo as memórias e evidências devidamente documentadas e sempre organizadas. E, sempre que possível, documentar em ata os assuntos tratados. Também é fundamental a conscientização de toda a organização e a comunicação clara com colaboradores/funcionários, com base na estratégia e nas narrativas que forem definidas. (**) Renato Delmanto é jornalista formado pela PUC-SP, com MBA pela Faap e mestrado pela Cásper Líbero. Nos últimos 15 anos tem atuado na área de comunicação corporativa, em empresas e agências, onde acumulou larga experiência no gerenciamento de diversos tipos de crise de reputação. Anteriormente trabalhou como jornalista em veículos como Estadão, Folha, Veja, TV Cultura e Época. Foi professor do curso de Jornalismo da Cásper Líbero, entre 2005 e 2016. (*) Carlos Parente é graduado em Administração de Empresas pela UFBA, com MBA em Marketing pela FEA USP, possui um sólido histórico de experiência em relações institucionais & governamentais, comunicação corporativa e advocacy, com participações e lideranças em processos de comunicação estratégica, inclusive internacionais. É também professor convidado de FGV e Aberje, consultor e sócio-diretor da Midfield Consultoria. (1) A expressão “segredos de liquidificador” do título foi extraída da canção Codinome Beija-Flor, de Cazuza. COMUNICAÇÃO, AS EMPRESAS E AS ELEIÇÕES
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