Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2022 263 pesquisadores sejam bem mais rápidos do que suas instituições na adaptação aos novos tempos. A ponderação que faz é que há campos em que a academia vai muito bem, obrigado, caso da rica produção sobre cibercultura e linhas de pesquisa relevantes na área de ciência de dados. “Não falta densidade no instrumental teórico”, argumenta. Além disso, Ciência de Dados, por exemplo, está na grade básica da ESPM, que tem diplomado entre 80 a 90 alunos por ano em comunicação corporativa. Uma tendência observada pela acadêmica é a perspectiva do jornalismo empreendedor. Um dos alunos da casa criou uma startup de games para produtos diferenciados de comunicação corporativa, exemplifica. Outra é que, se a comunicação integrada por si só implica trabalho multitarefa em escala, até mesmo atividades semiautorais, como programação ou redação, só fazem sentido dentro de um modelo industrial de geração de valor e, nesse contexto, um dos desafios dos líderes é conciliar o alinhamento exigido pelos clientes à autonomia almejada pelos colaboradores. “Há casos em que é melhor gerenciar as equipes por projetos do que por contas. Mas é arriscado quebrar paradigmas”, reconhece. Já Adriana Gomes, orientadora de carreira e coordenadora nacional do Núcleo de Estudos e Negócios e Desenvolvimento de Pessoas da ESPM, aponta a importância de os gestores observarem a evolução comportamental das diferentes gerações. Se antes o foco era obter um emprego estável, com segurança e boa remuneração, agora são levados em conta itens como a imagem da empresa, a flexibilidade dos modelos de trabalho e, claro, a remuneração. Mesmo assim, contraditoriamente, ser workaholic não é mais elogio, mas em startups se trabalha sem interrupção, observa. Segundo ela, questões apontadas por José Luiz Schiavoni, da Weber Shandwick, também são observadas na instituição: “Os gaps maiores são em competências com prazos e condições mais amplos para se desenvolver, caso do domínio fluente em inglês”. Com décadas de atuação em comunicação corporativa e experiência cotidiana com estudantes e empregadores, Adriana acredita na capacidade de resposta do setor: “Quem estruturou as grandes agências de hoje foram jornalistas que aprenderam observando a péssima gestão financeira, a total negligência com RH e a insegurança por falta de transparência nas empresas jornalísticas. São merecedores, portanto, tanto de aplausos quanto de crédito”. Passos transformadores para o negócio Lia Carneiro, sócia da Fato Relevante, trouxe aprendizado de seu MBA com foco em Recursos Humanos e de experiência em uma ex-startup – a hoje gigantesca XP – para apoiar o crescimento da agência, que em 2019 contava com apenas três funcionários e, depois de registrar 200% de crescimento entre 2020 e 2021, hoje soma 90 profissionais e 60 clientes. Em seu trabalho acadêmico, sobre a nova geração de profissionais de comunicação, reuniu mais de 200 entrevistas que desfizeram o mito da impetuosidade da Geração Y. “Nós enxergamos o outro Brasil dentro da agência”, diz. “Se olharmos para além da meia dúzia de faculdades, vamos ver que o mercado está cheio de gente disposta a trabalhar. Neste país as pessoas querem emprego. O que muda é que os veteranos foram criados para pensar muito antes das decisões e o pessoal mais novo tem tendência imediatista, prefere o risco ao conflito”. Ela concorda com o retrato formado pela pesquisa da Abracom, com maior escassez de pessoas focadas na produção digital, e da XP trouxe o modelo de sucesso da organização nascida no mundo online, de coparticipação, com sócios por núcleo de negócios. Hoje são 24 profissionais seniores associados, atuando nas várias frentes da empresa. Lia Carneiro
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