Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2022 262 ARTIGO criou concorrência extra. Monitoramento de redes sociais, por exemplo, exige conhecimento de ferramentas específicas e é uma das áreas mais expostas à disputa por força de trabalho. Os desafios acadêmicos Mesmo com o boom do setor de agências de comunicação, ainda há hoje graduações sem disciplinas básicas, como comunicação corporativa e assessoria de imprensa. Além da Cásper Líbero, USP e Mackenzie já incluíram o tema na sua grade há tempos, mas instituições federais, por exemplo, enfrentam maior demora para renovação dos currículos. Patrícia Gil, coordenadora da ESPM ComCorp, vê campo de evolução profissional para todas as gerações, sem distinção. O desafio é que os ciclos de atualização vão ficando cada vez mais curtos, o que não impede sequer os mais experientes de participarem do jogo. Ela lembra de um momento marcante, tanto para o jornalismo (neste caso, uma lembrança triste) quanto para a comunicação corporativa: o fechamento da Gazeta Mercantil no começo do século, pouco tempo depois da chegada do Valor Econômico. A quebra do jornal acabou beneficiando as agências, que acolheram em seus quadros muitos dos profissionais que ali trabalhavam e ficaram desempregados. O processo, em verdade, teve início duas décadas antes do fim da Gazeta Mercantil, com a greve mal-sucedida dos jornalistas, em 1979. Ali, em plena efervescência da política, na busca da redemocratização, as demissões em massa nas redações geraram um fluxo até então inimaginável de jornalistas para as empresas, que começavam a enxergar necessidades de um diálogo mais efetivo com a sociedade e os múltiplos stakeholders. E isso só fez crescer, ao ponto de, no auge, os jornalistas representarem 80% do efetivo de trabalhadores nas agências de comunicação, número que hoje anda ao redor dos 58%. Vale dizer ainda, conforme lembrou Patrícia, que na última década do século passado o mercado em geral cresceu muito com o cenário de privatizações, criação de estruturas institucionais e chegada de multinacionais. Já nos anos mais recentes, a explosão se deu na comunicação digital: “As agências passaram a precisar de competências peculiares e, na ausência de cursos especializados, a saída para muitos profissionais foi estudarem por conta própria. Essa demanda acelerou-se e hoje é commodity: os serviços só funcionam com SEO, curadoria de mídias sociais e outras disciplinas digitais”. Mas ela reconhece que, ainda hoje, alunos de graduação precisam buscar cursos extracurriculares porque a mudança nas grades do ensino superior é lenta – embora, no que se refere ao mercado, professores e Adriana Gomes Patrícia Gil COMUNICAÇÃO E O MERCADO DE TRABALHO
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