Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2022

Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2022 257 a darem respostas às demandas surgidas. A pesquisa da Abracom reflete a transformação e os desafios do setor. Um exemplo típico, apontado pelo estudo, foi a redução da proporção de jornalistas nas agências, que caiu de 80%, em 2005, para 58% nos dias atuais (pela Pesquisa com Agências de Comunicação publicada nesta edição do Anuário esse número é ainda menor, de 52,4%). O curioso é que essa redução não beneficiou os profissionais de relações públicas – em tese, os candidatos naturais e maiores beneficiários dessa mudança –, cuja representação é ainda de apenas 13% do total de empregados da área, ficando os publicitários com outros 10 por cento. Arte-finalistas digitais (como designers e editores de vídeo, entre outros) são 5%, enquanto formações anteriormente alheias ao campo das comunicações, como advogados e economistas, já chegam a 1% do total. “Há funções que davam traço nas pesquisas anteriores”, avalia Carvalho. “Conforme as agências assumem papéis relacionados a consultoria estratégica e compliance, a tendência é ampliar a diversificação dos times”. E não é demais lembrar de um evento histórico da Aberje, sete ou oito anos atrás, em que a mestiçagem foi apresentada por ninguém menos que o presidente da entidade, Paulo Nassar, como uma conquista inalienável da atividade. Desde então, essa diversificação só tem feito crescer. E, fora eventuais visões corporativistas, não há quem não veja benefícios nessa diversidade, que certamente será ainda maior quando começarem a ganhar intensidade programas de equidade racial. De volta às observações de Carvalho, ele aponta que a Abracom está empenhada em atualizar as faixas salariais praticadas pelo conjunto das associadas com o objetivo tanto de identificar pontos fora da curva quanto o tamanho da pressão inflacionária sobre o setor, já que foram registrados dissídios coletivos no período na faixa de até 10% – um custo extra, sem repasse direto aos clientes. Importante ressaltar, segundo o presidente- -executivo da Abracom, que, ao retratar o perfil do trabalhador na área, a pesquisa indica ajustes que podem ser necessários nas políticas de recursos humanos das agências. Sobre a questão de gênero, as mulheres continuam em maioria, com 65% do total dos empregados nas agências. Pouco mais de um terço do total (36%) têm entre 30 e 39 anos, mas esta faixa está se reduzindo. Desde 2017 observa-se o aumento na contratação de jovens entre 20 e 29 anos e, mais recentemente, há um pequeno crescimento da faixa etária dos 50 aos 59 anos. Embora haja algum consenso sobre a dificuldade de reter profissionais mais jovens, Carvalho nota que ainda é incerto o entendimento e a adaptação às expectativas da geração anterior, os jovens maduros. Se os primeiros não hesitam em abraçar oportunidades e nem em abandoná-las precocemente, tudo indica que os segundos estabelecem seus critérios antes mesmo de ingressarem em uma determinada organização, até mesmo com certa rejeição às estruturas tradicionais de trabalho. Setor digitalizado, trabalho nem tanto Se há uma queixa quase que generalizada por parte das agências, é em relação à formação profissional, já que praticamente não há cursos de comunicação focados em negócios, o que cairia como uma benção para o segmento. As exceções, salvo engano, são a Cásper Líbero e a ESPM, que preparam seus estudantes nesse campo. Mas há ainda um outro fator que deixa muito desconfortável o board das agências de comunicação: a perda significativa de profissionais seniores para os próprios clientes. A estratégia, na visão de alguns dirigentes, é passar o abacaxi para a Abracom, de modo a que ela, via algum de seus grupos de trabalho, inclua nas boas práticas de mercado penalizações contra esse tipo de atitude, que, em verdade, não é recente, mas tem se acentuado. A rotatividade também elevou as dores de cabeça das agências. Ela já foi até maior: chegou a 29% em 2019 e caiu para 24% em 2021. Mas o tempo médio de permanência no emprego não é muito animador. Apenas 23% dos trabalhadores na área permanecem entre 37 e 48 meses na posição. Quase um terço (28%) fica na mesma casa entre 19 e 24 meses. Mil vagas vos contemplam Para José Luiz Schiavoni, CEO da Weber Shandwck Brasil e ex-presidente da Abracom, já chegamos ao fim do túnel. Ele estima um déficit no mercado de até mil profissionais: “As grandes agências mantêm vagas abertas ou contratos pendentes por falta de gente, pois não se consegue hoje alocar mão de obra com a mesma velocidade de outros tempos e algumas agências, pela urgên-

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