Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2022 256 ARTIGO A acentuada expansão do segmento das agências de comunicação aqueceu de forma intensa a movimentação profissional e trouxe a reboque um cenário anteriormente impensável: a disputa por talentos já prontos, em atuação na concorrência. No passado, o grande celeiro era o estoque de profissionais disponíveis nas redações dos veículos jornalísticos. Havia, claro, também os profissionais formados pelas escolas de RP, mas eram, como ainda são, minoria. Só que as coisas mudaram no jornalismo e, obviamente, nas redações, que, hoje, encolhidas, já não são, como antes, fontes primárias para suprir o mercado das agências, que sempre priorizaram a contratação de jornalistas para suas equipes. O quadro é outro. A ampliação do escopo de serviços, a expansão da clientela, as novas exigências de parte a parte (fornecedores e clientes) e a própria transformação da comunicação corporativa criaram a necessidade tanto da ampliação como, e sobretudo, da diversificação de equipes. Ao mesmo tempo, o maior número de concorrências levando clientes de um lado para outro criou um movimento peculiar e, em muitos casos, preocupante. Como muitas vezes elas são motivadas por fatores alheios à qualidade do atendimento, em geral para reduzir preço, os contratantes acabam induzindo as novas contratadas a buscarem, nas agências anteriores, a equipe profissional responsável pela conta, reproduzindo na esfera profissional o jogo de cartas conhecido como rouba-montes – aquele em que o possuidor de uma carta similar à última do monte do adversário pode empregá-la para tomar para si as cartas acumuladas, saindo vencendor quem possuir a maior pilha ao final da disputa. O apelido é caricato, mas descreve perfeitamente o novo ambiente, que está levando as agências a desenharem novas políticas de atração e retenção de talentos. Particularmente as grandes e médias, diante desse quadro de uma certa vulnerabilidade funcional, viram-se estimuladas a criar planos de carreira melhor desenhados, estratégias de recursos humanos mais consistentes e escala de cargos com previsão assertiva de ascensão profissional – o que não só permite melhor comparação e equiparação de salários no mercado, como aumenta os ganhos para os profissionais e as despesas para os empregadores. Retrato das equipes do setor Em sua sétima edição, a Pesquisa de Cargos de Salários da Abracom contém dados apurados em 2021 que permitem comparação entre os cenários pré-pandemia e durante sua vigência, já que a edição anterior é de 2019. Embora a média salarial tenha se mantido estável nas agências, funções especializadas em dados e redes sociais obtiveram ganhos reais em torno de 10%. Mas há um outro nó, este mais difícil de ser desatado: o turnover. É ele que catapulta o índice, pois boa parte dos aumentos ocorre quando o contratante cobre a oferta, seja do próprio empregado ou para trazer alguém da concorrência. O estudo também mostra que a diversificação do perfil profissional avança de forma consistente na atividade. Apesar de o impacto inicial da pandemia ter trazido expectativa de cortes e rebaixamento de contratos, como sempre ocorre em atividades de serviços, a aceleração digital e novas demandas estratégicas do mercado comprador criaram vertentes de recuperação. A isso se somaram outros fatores, como as abordagens mais sofisticadas de experiência do cliente (CX, na sigla em inglês), a substituição de parte dos investimentos em publicidade e áreas afins por iniciativas mais aderentes ao mundo digital e a própria agenda ESG, que captou de forma acentuada o interesse e os negócios das agências, as primeiras e mais ágeis, segundo Carlos Carvalho, presidente-executivo da Abracom, COMUNICAÇÃO E O MERCADO DE TRABALHO
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