Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2022 18 ABRACOM 45 concorrências realizadas ao longo de 2021. Uma amostra de um universo amplo, que revela alguns dos pontos que podem ser melhorados nos processos de contratação de serviços. E que também mostra que há um número razoável de boas concorrências no mercado. Os dados revelaram um cenário preocupante. A maioria das concorrências avaliadas foi realizada no principal mercado do País, São Paulo, com incidência de 80%. A duração dos processos de escolha variou de 20 a 60 dias em 42% dos casos. Mas chegou a passar de 60 dias em 18%, um número estarrecedor. Segundo a pesquisa, 46% das empresas perderam a concorrência, 20% venceram e outros 20% nunca tiveram uma resposta, dado que revela descaso com os participantes, que se preparam para apresentar uma proposta e ficam no escuro. Em 70% das ocasiões os prazos de divulgação dos resultados previstos no edital não foram cumpridos. Em 78% das concorrências, os briefings não indicavam verba de referência, o que deixa a empresa que vai preparar uma proposta sem parâmetros para formatar um preço justo. E 53% dos briefings foram realizados em sessões individuais, o que não permite também que as agências saibam com quem estão concorrendo e nem ao menos abre possibilidade de sessões coletivas para esclarecimento de dúvidas. Essa prática levou 79% das agências a indicarem que não houve transparência durante as etapas do processo e afirmarem que em 60% dos casos não foram divulgados os critérios de avaliação técnica, prática que é obrigatória, por exemplo, nas concorrências públicas. Por fim, nossos associados revelaram que em 58% das concorrências pesquisadas não houve feedback, nem para quem perdeu e nem para quem ganhou. Ou seja, a agência participa de todo um processo seletivo, aloca grandes recursos materiais e intelectuais, gasta um tempo enorme na elaboração e apresentação da proposta e depois fica a ver navios, sem saber como foi seu desempenho. Tudo isso chega a ser estranho se observarmos o discurso e as anunciadas práticas ESG das empresas atualmente. Nesses últimos meses, a mídia brasileira foi inundada por diversas campanhas publicitárias em que muitas das maiores empresas do Brasil tornavam público ou reafirmavam seu discurso ESG. Prometem compromissos ambientais, sociais e de sustentabilidade, programas de governança e compliance, anunciando um mundo de boas intenções que devemos aplaudir e apoiar. Mas um olhar mais crítico a essa narrativa traz diversos questionamentos, principalmente na questão do walk the talk, ou fazer dentro de casa aquilo que promete da porta pra fora. Vemos no dia a dia algumas condições insalubres permeando o ambiente de negócios de clientes e agências, como o aumento das concorrências predatórias, exigências de entregas muito acima do previsto em contrato e condições de pagamento cada vez mais surreais. Tudo sob a ameaça de que, se não aceitar, “abrimos concorrência e outro pega”. Todos esses elementos reforçam nosso propósito de buscar um diálogo mais aberto e franco com as empresas. Principalmente agora que a Abracom comemora seus 20 anos de vida. Queremos comemorar essa data plantando as sementes de uma nova entidade, mais ágil, eficiente e profissional. O mercado de comunicação evoluiu e a Abracom deve evoluir junto. Nos últimos anos demos passos decisivos nesse sentido, com a criação dos Grupos de Trabalho de Digital, de Compliance e de Diversidade e Inclusão, que espelham as novas fronteiras que estão sendo exploradas por nosso setor. Estes grupos de think tank têm debatido as melhores práticas, ferramentas e abordagens em segmentos importantes, que certamente ainda estarão no dia a dia da comunicação por muitas décadas. O Grupo de Trabalho Mercado Forte, que congrega as lideranças do nosso setor, reúne-se frequentemente para analisar os problemas estruturais e propor soluções para melhorar o ambiente de negócios. Profissionais das agências deste GT trabalham em projetos de pesquisa, criação e elaboração de melhorias, em uma amostra de que é interesse de todos ter um mercado mais profissional e fortalecido. No ano passado, fizemos junto com este Anuário e com a newsletter Jornalistas&Cia a mais ampla e profunda pesquisa sobre o real tamanho do nosso mercado, que revelou um universo de cerca de 900 agências ativas em todo o Brasil, proporcionando dados que vão permitir ampliar nossa atuação e os horizontes de relacionamento com aqueles que estão mais longe e “desgarrados” da entidade. Estamos preparando novos talentos do setor, com o lançamento do Programa de Formação de Lideranças, que já está formando sua primeira turma e promete ser uma boa fonte de inspiração para os jovens que serão as referências do mercado no futuro. Também estamos finalizando os preparativos para lançar o programa de certificação, que vai conferir às associadas Abracom um selo de qualidade, desde que cumpram alguns pré-requisitos. Este projeto vai valorizar as agências em sua atuação frente a players de outros setores, garantindo padrões de ética, profissionalismo e transparência. Queremos que a celebração dos nossos 20 primeiros anos de vida seja um primeiro movimento para criar uma “nova Abracom”, eficiente, moderna e profissional, preparada para os próximos 20 anos. É nosso dever deixar um mercado melhor e mais forte para as futuras gerações da comunicação.
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