Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2022

Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2022 11 ciais. Indagadas acerca de 20 processos de comunicação diferentes, 83% das empresas consultadas responderam que em 2022 a preocupação com a gestão de meios digitais e redes sociais ocupa o 3º lugar de sua escala de prioridades, enquanto a gestão de relacionamento com a imprensa tradicional encontra-se apenas na 12ª posição. A considerarmos a série histórica das pesquisas de tendências da Aberje, o que mudou significativamente não foi a preocupação das empresas em relação aos meios digitais, mas a relevância concedida à própria imprensa. Entre 2015 e 2021, o relacionamento com os meios de comunicação tradicionais oscilou entre o 5º e o 6º lugares no levantamento, mas despencou seis posições na sondagem de 2022. Já as mídias digitais e redes sociais mantiveram-se sempre entre a 2ª e a 3ª posições. É verdade que não seria de todo equivocado pensar que a preocupação das empresas com os meios digitais não deixa de incluir a imprensa tradicional. Afinal, como já dissemos, as linhas de demarcação que separam as mídias online e o jornalismo tradicional não são hoje tão rígidas quanto já se supôs, e este último encontra-se também presente nas redes. Seja como for, dados como esses suscitam algumas inquietações e cuidados. Em se tratando de estabelecer um canal eficiente de relacionamento com a sociedade, não há como negar a enorme relevância das novas mídias. Redes sociais, portais e outras plataformas têm uma penetração indiscutível junto às comunidades e permitem uma interação quase que direta e imediata com o público. Daí que esses meios constituam instrumentos poderosos para uma empresa ou marca que pretenda se dar a conhecer, divulgar seus produtos, promover uma ação de interesse social ou difundir seus valores e intervir no debate público. Mas seu emprego envolve riscos, derivados de algumas das características que lhes são peculiares, bem como do atual estado da arte da área, que ainda não conquistou a dádiva do reconhecimento institucional, advinda da confiança que a sociedade ainda não percebe nas informações produzidas pelas novas mídias. Não é o caso de ir tão longe quanto Umberto Eco, quando o filósofo e romancista italiano declarou em entrevista que as redes sociais e canais similares haviam“dado voz a uma legião de imbecis”, mas é forçoso reconhecer alguns problemas. Em que pese o exagero desse autor, ninguém pode negar que as redes continuam a ser campo aberto para a dispersão de conteúdos suspeitos, produzidos por veículos ou indivíduos destituídos de qualquer compromisso com os fatos ou com a informação de qualidade. O grande risco, como disse mais moderadamente Eco noutra ocasião, reside no fato de que as redes não possuem quase nenhum filtro, de que a seleção do que deve ser, ou não, levado a sério fica por conta do usuário e termina por depender de seus conhecimentos prévios. Ou pior, há um filtro obscuro, invisível ao escrutínio público, que são os algoritmos que regem as engrenagens das redes sociais e que interferem diretamente no cardápio de informação que é oferecido ao cidadão, considerado por parte dessas redes apenas como um usuário. A questão parece ainda mais grave se considerarmos, além disso, que no ambiente virtual em geral todo tipo de notícias falsas possui amplo espectro de divulgação, malgrado todos os esforços já realizados no sentido de estabelecer uma legislação rigorosa, bem como de instituir mecanismos de auditoria e monitoramento eficazes. Em qualquer busca que façamos pela internet, a dificuldade de realizar uma triagem adequada, juntamente com o volume de informação, faz com que tropecemos em boatos de toda sorte, em fake news e, no ponto mais extremo disso tudo, em discursos de ódio até nos depararmos com conteúdos produzidos por especialistas sérios e profissionais responsáveis. A sociedade e Paulo Nassar é diretor-presidente da Aberje (Associação Brasileira de Comunicação Empresarial) e professor titular da ECA-USP (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo) Hamilton dos Santos é diretor-geral da Aberje (Associação Brasileira de Comunicação Empresarial) e mestre e doutorando em Filosofia pela USP – Universidade de São Paulo

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