Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2020
7 Paulo Nassar é professor titular da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e diretor- presidente da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje) Hamilton dos Santos é diretor-geral da Aberje juízo”, de punição e recompensa. Na comunicação dentro das organizações, a violência é expressa sobretudo em um padrão em que se busca vencer o argumento. Quando se está mais interessado em provar a razão do que em criar conexão, a lógica da violência já está posta e há pouca probabilidade de a comunicação ser de fato efetiva. No sentido oposto, encontra-se a empatia, pilar central da CNV. A escuta ativa, somada ao diálogo aberto, fortalecem essa conexão entre as pessoas e promovem ambientes mais empáticos – que são também ambientes mais eficientes. Ou seja, cremos que uma comunicação nesses termos é ainda mais saudável para o negócio, impactando na produtividade e na boa reputação. São as narrativas que dão sentido e significado às organizações. E cabe ao comunicador ser o guardião dessas narrativas, mas onde todos devem ostentar a competência (skill) comunicacional, do presidente ao porteiro. Daí a necessidade de treinamentos e capacitação – a CNV ajuda a voltar o olhar para si mesmo – entendendo suas emoções e necessidades – e a atenção para a escolha das palavras e o cuidado retórico para expressá-las. Já entendemos que as empresas não são ilhas isoladas do resto da sociedade. No contexto de um mundo impactado pelo coronavírus, elas possuem um papel na linha de frente, seja na contribuição efetiva para ações de combate à crise sanitária, seja na reconstrução econômica e social. Neste processo, a CNV como método aplicado vem servindo como ponte para uma construção coletiva, que leve em consideração o interesse de todos. Um desafio para o C-Level e para as direções e comunicação – O desafio é se tornar ainda maior quando olhamos para a alta liderança das organizações. Os líderes hoje extrapolam as dimensões de líderes empresariais e tornam-se líderes sociais, ativistas e engajados. Neste sentido, a importância do diretor de comunicação só cresce. É preciso estar cada vez mais envolvido nas decisões políticas e estratégicas do board , influenciando positivamente as narrativas da organização que, emmomentos de crise, ganhammais relevância. Cada vez mais o diretor de comunicação posiciona-se como um diretor institucional. A dimensão institucional impõe-se sobre a dimensão estritamente corporativa. Em documento, escrito em 2007, a Aberje já afirmava “hoje, o que está em jogo é o nosso papel na ‘gramatura’ do mundo. [...]. No drama de nossos dias, que papel nós, comunicadores, vamos assumir, uma vez que somos profissionais capacitados ao mesmo tempo em que simples seres humanos, diante dos grandes desafios sociais, econômicos e ambientais, que são a miséria e o aquecimento global? ”. Esta pergunta ainda está dramaticamente no ar. As fake news a serviço do injustificável – Mas e no contexto geral? Ainda engatinhamos. O uso de fake news para justificar o injustificável ou argumentar um ponto de vista equivocado tem ganhado força. O ódio de líderes semeado contra a imprensa tem contribuído para que produtores de conteúdos caluniosos sejam protagonistas de uma comunicação violenta e depreciativa. Se a pessoa pensa diferente, ela é ofendida. As redes sociais estão polarizadas e discussões políticas têm afetado até laços familiares. Em nível de curiosidade, no ano passado, segundo o Instituto Datafolha, metade (51%) dos brasileiros que usam redes sociais deixou de comentar ou compartilhar alguma coisa sobre política em grupo de whatsapp para evitar discussões com amigos ou familiares. Quase um terço das pessoas (27%) deixaram algum grupo dessa rede social em 2019. Talvez, emmeio à quarentena, onde lives estão cada vez mais presentes no dia a dia das pessoas, com debates de altíssimo nível e com grandes audiências, seja o momento para transformarmos o jeito de se comunicar. Repensando a maneira de distribuir o poder e as tarefas, por meio de uma metodologia que volte a atenção para si e para ou outros com empatia e cuidado, instigando comunicadores a repensarem a linguagem e seus processos, podemos nos beneficiar de uma Comunicação Não Violenta. A Comunicação organizacional frente ao seu tempo: missão, visão e valores ABERJE
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