Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2020

130 O ano da reconexão E m tempos de Big Data e Inteligência Artificial, foi um vírus que revolucionou a forma como usamos a tecnologia em 2020. Não um vírus de computador, mas sim um organismo microscópico, desprovido de metabolismo próprio e dependente de células hospedeiras: o novo coronavírus. Por causa dele, num intervalo de semanas, a pa- lavra conexão recobrou seu significado há muito esquecido. Continuamos, é verdade, dependentes das telas. Mas o que passamos a buscar nelas dei- xou de ser a miríade de distrações que nos isolavam de tudo à nossa volta. Tranca- dos em casa, reaprendemos a valorizar o que ficou do lado de fora e passamos a sentir falta daquilo que vínhamos ignorando por ter sempre os olhos vidrados nos smartphones. As telas tornaram-se janelas para nos reconectar ao coletivo. Através delas, confinados, visitamos museus, falamos com entes queridos e colegas, buscamos informações vitais para a sobre- vivência de todos. Para nós, comunicadores, uma revolução. Ao re- pensar o verdadeiro significado de conexão – aque- le em que a tecnologia é meio e não fim – estamos repensando a própria atividade de rela - ções públicas. Para que trabalhamos? Para construir relações com a sociedade. E nada mais pú- blico e urgente do que uma pandemia para nos relembrar dessa missão. Em vez de li- kes, views, shares e todo o jargão pelo qual vínhamos sendo medidos, nosso indicador volta a ser a realidade. Que efeito produ- zimos no mundo ao convencer pessoas a lavar as mãos? Qual é o poder de um tex- to que gera uma corrente de doações a um hospital? Que valor temos ao separar o joio do trigo em meio a uma infinidade de notí- cias perigosamente falsas? De acordo com o Instituto Datafolha, os brasileiros depositaram sua confiança para compreender a crise do novo coronavírus no jornalismo profissional. TV (61%) e jornais impressos (56%) lideraram o ranking, segui- dos por rádio (50%) e sites de notícias (38%). Comunicação e tecnologia caminha - ram juntas no combate à pandemia. Al- guns países optaram pela tecnologia como fator preponderante e passaram a usá-la para monitorar e punir quem quebrasse as regras. China, Israel, Coréia do Sul e Singapura, entre outros, lançaram mão de GPS, prontuários eletrônicos ou dados confidenciais para identificar e seguir pacientes. No entanto, com maior ou menor utilização de ferramentas tecnológi - cas, todas as nações atingidas precisaram conquistar a cooperação de cada indivíduo por meio da informa- ção. Quando se apresentam fatos científicos trazi- dos por porta-vozes críveis, as pessoas fazem o que é certo. E para se chegar a esse nível de engajamento é preciso gerar confiança nos médicos, nas autoridades e na imprensa – justamente o que só a boa co- municação pode alcançar. No final das contas, um simples vírus nos recor- dou que o que fazemos, ou o que precisamos fazer, é conectar pessoas ou grupos de pessoas em torno de um objetivo comum e benéfico no longo prazo. Os meios e a tecnologia são importantes, mas não mais importantes do que a conexão. A grande tendência de 2020 foi um retorno às ori- gens – e tomara que por muito tempo. Patrícia Ávila Diretora geral da JeffreyGroup Brasil

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