Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2020

125 O ano era 1992, o momento era a campanha presidencial americana e o personagem era James Carville, então assessor do candidato Bill Clinton. Ele cunhou a frase “É a economia, estú- pido!”, querendo dizer grosseiramente que os resul- tados de eleições, mais que qualquer outra coisa, estão ligados às condições econômicas do país no momento. Na ocasião, ele acertou. A vitória de Clin- ton sobre George Bush pai naquele ano mostrou que os eleitores estavam mais preocupados com a crise econômica do que com o triunfo de Bush na Guerra do Golfo. Quase 30 anos depois, no momento em que pas- samos por uma pandemia sem precedentes, não há como lembrar da frase de Carville e não associá-la à importância de uma boa comunicação. Em meio a uma crise como esta, nada tem mais poder de preservar a economia, a democracia, a saú- de, as instituições – enfim, a vida – do que uma socie- dade consciente e bem informada. O que torna a co- municação uma arma de salvação (ou de destruição) em massa. Comunicação serve para quê? Exemplos não faltam de narrativas que, numa quantidade brutal, entopem nossas fontes de infor- mação a todo segundo. Sejam fortuitas ou delibera- das, frágeis ou sólidas, bem ou mal-intencionadas, elas constituem o “novo normal” e representam o espírito do nosso tempo. A questão é: como deve- mos nos comportar diante dessa avalanche de fatos e versões? É importante seguir alguns princípios essenciais. O primeiro deles é buscar fontes primárias de infor - mação que sejam confiá- veis, valorizando o conhe- cimento especializado. A maioria das informações que temos hoje vem de especialistas, exatamente de cientistas que não se beneficiam comercial ou politicamente da semeadura de dúvidas e desconfianças. Especialistas, não igno- rantes, devem ser valorizados. O segundo ponto essencial é buscar informações em veículos que trabalhem com fatos – a chamada “mídia objetiva”, que conta com profissionais trei- nados e responsáveis em suas redações. É essencial valorizar esses veículos em detrimento de bots nas redes sociais que compartilham histórias destinadas a causar confusão e caos. Um terceiro princípio essencial é lembrar da im- portância da comunicação nas empresas e institui - ções. O profissional de relações públicas, que sem- pre teve um papel de liderança na comunicação de crises, neste momento será fundamental para ajudar a manter comunidades saudáveis, funcionários segu- ros e empresas em funcionamento. Comunicações em massa correm um risco imenso de se tornarem politizadas, por consequência complexas e divisó- rias, pois as pessoas tendem a receber e comparti- lhar informações em suas próprias bolhas sociais. É importante, então, contar com profissionais. Por fim, vivemos num momento que nos convida a analisar qual é o nosso verdadeiro papel dentro da sociedade. Quais são nossos valores e, para usar uma palavra da moda, nosso propósito. O histórico manifesto proposto no ano passado pela Business Roundtable, a associação america- na que reúne alguns dos CEOs mais importantes do mundo, cravou que as empresas não devem mais seguir só os interesses de seus acionistas, mas da comunidade em geral. Se todos os figurões que de- bateram o assunto no Fórum Econômico Mundial de Davos foram sinceros quando falaram sobre como as empresas podem ajudar a resolver problemas sociais e ter um objetivo maior do que o lucro, nunca houve momento melhor para provar isso. Em um mundo polarizado e povoado por fake news , comunicar da forma certa e, sobretudo, saber entender e interpretar o que está sendo comunicado pode fazer a diferença. Sem estupidez. Eduardo Vieira Sócio da agência Ideal HKS e copresidente da rede Hill+Knowlton Strategies para a América Latina

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