Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2020

120 O parasita A crise do coronavírus vai acelerar algumas tendências da comunicação e do marketing. A nova recessão econômica provocada pelo confinamento encontra um Brasil ainda combalido da última retração, que havia sido a maior desde o pós-guerra, mas provavelmente vai perder o posto para a atual. Essas duas ondas de encolhimento na atividade afetarão muitos setores, entre os quais o de comunicação, já fragilizado pelas mudanças de hábitos do consumidor. A crise atu- al também encarece o capital de risco, dificultando a vida ou conde- nando à morte novos empreendi - mentos que buscavam um lugar ao sol no interesse do público. Os problemas de comunicação e marketing de empresas e instituições estão mais ou menos onde sempre estiveram, certamente um pouco piores. As companhias precisam ven - der seus produtos e serviços, como sempre. As crises de reputação continuam explo- dindo a todo momento na mídia e nas redes sociais. Mas as certezas sobre como re - solver, medir ou administrar esses problemas ficaram para trás. Em síntese, gestores e lideranças têm dúvidas se o tradicional na comunicação ainda funciona e quanto à efi- cácia do que é novidade. Esse limbo de convicções é particu- larmente danoso às empresas do setor. Se ninguém tem o remédio certo na dose exata, abre-se espaço para todo tipo de palpite e de promessa va - zia a qualquer preço. Se não bastassem as pres- sões do lado da atividade econômica e as incertezas do modelo de negócio da comu - nicação, o coronavírus pro- vavelmente vai afetar alguns dogmas. É improvável que a tendência de globaliza- ção, por exemplo, que já vinha arranhada por uma série de conflitos internacionais, saia incólume dessa crise. Governos e empresas vão olhar para seus ne- gócios e interesses além das fronteiras nacionais de outra maneira. Quanto aos hábitos do consumidor, a maior ob- viedade da crise é que a digitaliza - ção dos negócios e dos costumes será acelerada exponencialmente. Depois dos hangouts e do zoom por causa do confinamento, já ima- ginou a cafonice de dizer a um vi - sitante que sua empresa está sem salas de reunião? Ou ficar na porta de uma delas espe- rando os usuários da reunião anterior saírem? Esses vetores deveriam conduzir gestores de co- municação e marketing a um planejamento que en- volva, entre outras coisas: Questionar o que eu estou fazendo: os legados e a inércia podem ser fatais. Não há em- presa onde inexistam rotinas ou ações que são feitas porque sempre deram certo, porque “sempre foram assim”. Dar uma boa chacoalhada pode ser a diferença entre a vida e a morte. Questionar o que eu estou pagando: verificar se você está pagando pelo overhead da sua agência ou por um ser- viço estratégico. Questionar seu propósito: se a sua marca ainda não abra - çou uma causa, agarre uma antes que seja tarde. Lembrar do livro texto: fa- zer muito bem o básico costu - ma ser poderoso. Medir, medir, medir: a evo- lução da ciência de dados vai varrer do mapa quem não se planejar, administrar expecta- tivas e aferir resultados. Alcides Ferreira Sócio-diretor da Agência Fato Relevante

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