Revista Locação 98
16 crise de saúde global diferente das recessões que vivemos mais recentemente, as quais ficaram a dever quando falamos de pro- blemas de índole financeira. Ao contrário da crise que enfren- tamos há uma década, a crise atual acontece num tempo em que a dinâmica do mercado era muito boa, antes da pandemia. A situação é semelhante em outros países da Europa? JRA: Sim, na maioria dos países. A ARAC acompanha de perto outros mercados, pois é membro da Leaseurope, Associação Eu- ropeia de Leasing e Rental. Em Portugal, as locadoras dedicadas ao rent a car redu- ziram as suas frotas em cerca de 50% em 2020. Situação semelhante foi registada em outros países da Europa, no- meadamente nos países do Sul, nos quais a atividade de rent a car é fortemente dependente do turismo. Em Portugal, o setor operou em 2020 com uma frota que nunca superou os 63 mil veículos de passageiros e 8 mil utilitários leves. No Brasil, tivemos um breve período de recuperação no segundo semestre de 2020, com alta procura pelo rent a car. Houve algo semelhante em Portugal? JRA: A diminuição da procura foi sem precedentes. Tivemos alguma recuperação no verão de 2020 (OBS.: o equivalente ao mesmo período do inverno brasileiro). Recebemos algum turismo internacional, embora em número muito reduzido, sobretudo da França, Alemanha, Holanda e Espanha. A verdade é que as quarentenas e restrições relacionadas com o mercado britânico prejudicaram bastante a atividade de rent a car e o turismo em geral. Os turistas britânicos são tradicionalmente clientes importantíssimos durante quase todo o verão. E depois da temporada, a deman- da praticamente desapareceu, inclusive durante o período de Natal e ano novo. Qual a situação de momento em Portugal? JRA: Em 2021 deparamo-nos com as terceira e quarta ondas da Covid e mais uma quebra abrupta da atividade, nomeada- mente do componente turístico, acarretando enormes prejuízos para as empresas. Apesar de grande parte dos veículos que compõem as frotas das loca- doras dedicadas ao rent a car terem permanecido parados, as empresas continuaram a suportar custos elevados de funcionamento. Agora no verão que estamos a viver, há uma procura ainda muito deprimida. Convivemos com a falta de pre- visões confiáveis sobre o futuro, pois temos tido um abre e fecha e um sem número de mudanças no regime da quarentena, o que tem dificultado a vida das em- presas, não se antevendo neste momento qual o nível de fatura- mento que o setor irá registar. Não podemos esquecer que, ao longo do primeiro semestre, as taxas de ocupação foram muito baixas, mesmo considerando a forte redução de frota disponí- vel para aluguel, que girou em torno de 50%. A crise na produção da indústria automotiva, provocada pela falta de semicondutores, também prejudicou as locadoras portuguesas? JRA: Sim, no que se refere à renovação das frotas, as em- presas estão se deparando com a falta de veículos disponíveis para aquisição no mercado, devido essencialmente à falta de semicondutores necessários à produção dos automóveis atuais. Isso provoca a escassez de veículos para aluguel e, con- sequentemente, uma elevação nos preços, algo que também acontece com os mercados de hospedagem e aviação. Qual a expectativa para o restante de 2021 e 2022? JRA: Os empresários de rent a car têm esperança de que este ano se registre alguma recu- peração da atividade turística internacional, com o consequen- te aumento de turistas estran- geiros em Portugal. Para que isso aconteça, será necessário que a situação sanitária esteja controlada e que a temporada de verão se prolongue para além de setembro. Com relação ao chamado mercado corporativo (terceiri- zação), espera-se crescimento a partir do desconfinamento. O aluguel de curto e médio prazos certamente terão aumento na demanda, à semelhança dos últimos anos. O mercado também se reno- va com a criação de produtos de mobilidade cada vez mais flexíveis para os clientes. As locadoras estão se transforman- do em consultores e fornecedo- res de mobilidade, oferecendo as soluções mais adequadas a uma clientela cada vez mais exigente, que aluga vários tipos de veículos em regime de curta, média ou longa duração, ou ain- da no modelo de partilha, como o carsharing. Estamos convictos de que, passada a fase difícil que atra- vessamos, o mundo e os vários setores da mobilidade retoma- rão a sua atividade normal. À medida que a União Europeia volta a sua atenção para a recuperação, acreditamos que existem várias medidas que podemos tomar com vista a apoiar os objetivos da transição digital e da economia verde, onde devemos enquadrar a mobilidade sustentável. Entrevista
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