Revista Locação 96
39 Logo adiante, passo por um trecho urbano e vejo uma pousada de frente para a tal formação rochosa. Como já vai escurecer e eu não conheço a estrada, decido entrar e pernoitar na cidade de Itamaraju. Na simpática pousada à beira da rodovia, per- gunto sobre a tal montanha. O vigia me diz que se trata do Monte Pescoço, explicando que o nome se dá pela forma da pedra que se eleva na parte mais alta. Pergunto sobre como posso chegar até lá, mas recebo a informação que só passando por dentro de fazendas. Ao observar minha curiosida- de e, agora, minha face de decepção, ele me passa o contato de uma pessoa que poderia me guiar. Retomando minha empolgação, envio uma mensagem para a tal pessoa e combinamos de nos encontrar pela manhã. Sigo para meu quarto entusiasmado e averiguo se todo o equipamento de fotografia pronto para uso. Aproveito para me banhar e saio para jantar no agradável jardim da pousada que fica no entorno da piscina. Foi uma boa ideia ter parado. No outro dia, me sirvo do bem-preparado café da manhã antes de partir ao encontro do Vinicius. Já no caminho, indagando-o, entendo que não exis- te turismo na região, mesmo com tamanha beleza dessas montanhas. As pessoas que chegam de fora, assim como eu, apenas param para descansar e se- guem viagem no dia seguinte. Diante dessa revela- ção, me senti um desbravador percorrendo trilhas de Mata Atlântica salpicadas de cacaueiros. Essas árvores são resquícios de uma cidade que chegou a ser a maior produtora de cacau do Brasil, mas foi assolada pela infestação de uma praga voraz. O Monte Pescoço é fabuloso! Conforme nos deslocamos, ele se apresenta de uma forma di- ferente. Pergunto ao Vinicius sobre um tal pau- -brasil que foi descoberto nessa região semanas atrás. Dizem que tem 600 anos de idade e que é o maior e mais antigo espécime já encontrado após a massiva exploração portuguesa. Hospitaleiro e apaixonado pela natureza, espe- cialmente daquela sua terra, ele se dispõe a me le- var até o raro exemplar. Assim, deixamos o monte e seguimos até o assentamento do senhor Manuel Jesus e seu fiel amigo Billi, um cão da espécie da- chshund, que o acompanha por onde quer que vá. O caminho todo é feito no entorno dessa ca- deia montanhosa, que se revela ainda mais ampla e bonita à medida que seguimos para o interior. Já na mata, passamos por muitos paus-brasil, alguns de 200 anos, outros de 100. Segundo o Manuel, existem mais de 800 árvores dessa es- pécie dentro da propriedade, onde ele não deixa ninguém caçar. De repente, ele para. É quando eu olho para cima e me paraliso, boquiaberto, diante do impávido colosso. Testemunha sobrevivente da história de colonização do Brasil. Impossível não fazer uma volta ao passado e imaginar que, na época em que essas terras foram descobertas, essa árvore era apenas uma pequena muda. Itamaraju é um lugar a ser descoberto! Depois de um dia dentro das matas baianas, pego novamente a estrada em direção ao meu destino. Uma placa me diz que estou entrando na Costa das Baleias, onde as Jubartes vêm todo ano para dar à luz. Mas agora é verão. Para vê-las, é preciso vir entre julho e setembro. Já no município de Prado, entro em uma via de terra. Logo penso que, por sorte, a época da chuva é só no inverno, quando o ideal aqui seria ter um carro 4x4. Do alto das falésias, por onde corta a tortuosa estrada, me acompanha a vista de uma imensidão que vai do verde esmeralda ao azul marinho. O mar da Bahia é de impressionar! À ESQUERDA, ALTO: VISTA DO MONTE PESCOÇO ABAIXO: CACAUEIRO COM FRUTOS À DIREITA : O MAIS ANTIGO PAU- BRASIL DESCOBERTO NA COMPANHIA DO SR. MANUEL E SEU AMIGO FIEL, BILLI
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