Revista Locação 96

L: Quais são os componentes que estão em falta na indústria automotiva? P: Há vários, porém o déficit do suprimento de supercondutores é algo realmente muito sério, que foi agravado com a ocor- rência de incêndios em fábricas dessa matéria-prima no Japão, LOCAÇÃO: Como estava o mercado para as locadoras há um ano, no ápice da primeira onda da pandemia? PAULO MIGUEL JUNIOR: Estava complicado para todo mundo. O segmento de aplica- tivos, por exemplo, caiu 80%. Muita gente devolveu o carro para a locadora, e os pátios ficaram cheios. Mas podemos dizer que o setor se compor- tou muito bem em meio à pandemia. L: Hoje, passado um ano, vivemos uma segunda onda da pandemia e o setor convive com a falta de carros para renovar e ampliar a frota. Vocês esperavam enfrentar esse descompasso na produção das montadoras? P: Não, é a primeira vez que isso acontece. Já enfrentamos várias crises antes, inclusive a própria falta de carros em virtude de demanda aqueci- da. No entanto, dessa forma como está acontecendo, com problemas na produção, é algo inédito. L: Qual será o impacto desse apagão das montadoras para o setor de locação? P: Com a produção represada e a alta do dólar, nós devere- mos ter alteração de preço nos automóveis todos os meses por um bom espaço de tempo. A situação não deve melhorar tão cedo. O número de veículos solicitados pelas locadoras e não entregues já passa dos 150 mil. E o tempo de entrega pode durar até 80 dias. O cliente que procura hoje pelo aluguel por assinatura, por exemplo, poderá ter que aguardar até contar com o veículo disponí- vel. A incerteza quanto ao pra- zo é uma realidade enfrentada não só pelas montadoras, mas também pelo varejo. Capa COM O AUMENTO DO PREÇO DOS VEÍCULOS, A TARIFA MÉDIA DE LOCAÇÃO TAMBÉM DEVE PASSAR POR UM REAJUSTE e também com o bloqueio no canal de Suez, em virtude do acidente com o navio cargueiro. L: Além disso, há outras dificuldades a serem superadas? P: Com o aumento do preço dos veículos, a matéria-prima do setor, a tarifa média de locação também deve passar por um reajuste. De certa forma, isso já vinha acontecendo, pois as tarifas das locadoras estavam represa- das e, com a demanda crescente, foi necessário adotar um patamar mais realista de preço. L: A demanda pela locação continuará em alta? P: No momento, um nicho de mercado que se tornou muito significativo para o setor, o de locação para motoristas para aplicativos, também está sendo fortemente afetado, com a que- da do número de passageiros por causa do isolamento social, combinada com o aumento dos combustíveis. Esperamos que a vacinação possa resgatar gradativamente essa demanda pelos aplicativos. L: Mesmo assim, ainda será possível crescer este ano? P: Tudo isso afeta demais o crescimento do setor de locação. Nós não teremos o crescimento que imagináva- mos que teríamos quando virou o ano. O setor vinha se recuperando. Entre agosto e setembro, tivemos um aumen- to surpreendente na procura dos serviços. Chegamos a ter uma ocupação nos feriados de setembro e outubro próxima dos 100%. Arriscávamos dizer então que seria possível atingir dois dígitos de crescimento em 2021. Agora, é difícil arriscar uma previsão, mas eu diria, com otimismo, que a situação possar vir a se normalizar no segundo semestre.

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