Revista Locação 95

20 Mercado A FORD ANUNCIOU em janeiro o fe- chamento de todas as suas fá- bricas no Brasil. A marca estava há mais de um século estabele- cida no país como produtora de veículos, o que aumentou o im- pacto do comunicado. “Isso dei- xou a todos atônitos”, comenta o consultor Cassio Pagliarini, da Bright Consulting. “A decisão pe- gou todo o mercado de surpresa, mas não dá para afirmar que não era esperado. Já há algum tem- po, quando a Ford decidiu global- mente priorizar veículos SUV e picapes, o Brasil já havia ficado em alerta”, acrescenta o CEO da Auto Avaliar, JR Caporal. Segundo Cassio, uma medida dramática como essa não acon- tece por um único motivo. É fru- to de uma combinação de fatores e de decisões infelizes, conjuga- da ao ambiente cáustico de ne- gócios agravado pela pandemia. “Tudo isso culminou na decisão tomada agora”, avalia ele. Caporal lembra que foram anos de prejuízos da Ford no país. Segundo ele, a empresa atraves- sou praticamente os últimos qua- tro ou cinco anos sem resultados positivos e sem perspectivas ma- croeconômicas, com uma grande capacidade ociosa nas fábricas, além do custo Brasil. “Para se manter uma operação em deter- minado país, é preciso que haja demanda local que justifique o alto custo de investimento. Caso isso não ocorra, a montadora pas- sa a buscar outros territórios, a exemplo da Ford“, explica ele. Mencionado por Caporal, o anúncio da Ford de que iria con- centrar esforços em picapes, SUVs, novas soluções de mobili- dade e nos veículos de nicho acon- teceu em 2018. “Essa direção foi definida em função da rentabili- dade obtida pela empresa nesses ramos de atividade e pela necessi- dade de focar sua atenção em no- vos formatos de mobilidade, ele- trificação e veículos autônomos. Uma decisão estratégica e de longo prazo, na qual o Brasil não foi considerado como polo de de- senvolvimento ou fabricação des- sas novas tecnologias. Na mesma época, a Ford disse que veículos e plataformas que estivessem fora dessa regra, mas fossem comer- cializados de forma economica- mente sustentável, poderiam con- tinuar seu curso”, lembra Cassio, da Bright. Portanto, ressalta ele, a ordem era para descontinuar automóveis e fábricas que não pertencessem a esses segmentos e que tivessem resultados negati- vos para a empresa. Para as locadoras, analisa Caporal, há um impacto negati- vo a ser digerido. “Por mais que a Ford não seja a grande monta- dora a fomentar o setor, veículos como o Ka e o Ka Sedan tinham muita entrada neste segmento. Além disso, a redução da produ- ção local e da capacidade ociosa da indústria pode reduzir também o poder das locadoras na compra de carros novos”, opina ele. FORD O QUE ESPERAR COM A SAÍDA DA FABRICAÇÃO NO BRASIL Especialistas analisam o impacto do anúncio na locação RANGER STORM, FABRICADA NA ARGENTINA, SERÁ UM DOS VEÍCULOS QUE SEGUEM SENDO COMERCIALIZADOS PELA FORD NO BRASIL.

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