Revista Locação 112

UMA FROTA EM QUE A MAIOR PARTE DOS VEÍCULOS seja composta por modelos elétricos ainda é uma realidade distante para o Brasil – e para as locadoras. Porém, por quanto tempo? Dos aproximados 100 mil veículos elétricos em circulação no Brasil, saltaremos em 2030 para mais de 1,3 milhão. E mais: no longo prazo, em 2050, a previsão é que o país necessite chegar à marca de ao menos 20 milhões de carros totalmente elétricos na frota para atingir as metas de descarbonização, e um restante de frota híbrida, com uso de etanol. Na avaliação de organizações globais como a A&M, a transição da predominância de veículos de motores com combustão interna para a maior presença de elétricos deve demorar pelo menos mais cinco anos, uma vez que “a indústria automotiva brasileira caminha a passos lentos na adoção de novas tecnologias, sobretudo para eletrificação”. Além disso, explica esse atraso o fato de a demanda nacional ainda não estar preparada para o novo conteúdo tecnológico, devido ao poder aquisitivo dos brasileiros e à dificuldade de acesso ao crédito. De imediato, pesa nessa conta a retomada e aumento gradual dos impostos sobre os elétricos, híbridos e híbridos plug-in importados, a partir deste ano. Em 2024, a tributação será de 10%, chegando até 35% nos próximos 30 meses (julho de 2026). Na entrevista a seguir, com David Wong, diretor da A&M, ele explica melhor quais são os obstáculos que o elétrico enfrenta no país. Locação: Por que o carro elétrico ainda está longe de ser uma realidade para o brasileiro? David Wong: Em primeiro lugar, porque ele ainda é caro para os nossos padrões. E deve ficar ainda mais caro com a política de tributação para os próximos anos. Enquanto isso, na Europa, a venda de veículos híbridos deve superar a de veículos com combustíveis fósseis em 2026. Lá, essa barreira do preço está caindo. Há incentivos e investimentos para atender a demandas de sustentabilidade. Aqui, os elétricos e híbridos ainda são bem mais caros do que os somente com motores a combustão interna. Locação: Quanto a bateria representa atualmente no custo total dos elétricos? DW: Cerca de 30% a 40%. Porém, outra barreira importante é a escassez de pontos de recarga para os elétricos. E existe a preocupação com a longevidade da bateria, projetada para cinco mil ciclos completos de recarga, o que é suficiente para pelo menos uns dez anos de uso. Locação: O Brasil não teria condições de produzir internamente essas baterias? DW: Já existe um projeto-piloto em Minas Gerais, onde há minas de lítio e outros minérios. Mas erguer uma fábrica do gênero e começar a produzir leva tempo, de dois a três anos, com investimento estimado de ao menos US$ 1 bilhão, para iniciar uma planta. De qualquer forma, mesmo quando estiver totalmente instalada, a indústria nacional não vai ter escala para exportação de carros elétricos porque, quando avançarmos na produção local da tecnologia, os demais países já serão autossuficientes na produção nesses tipos de veículos e seus componentes. Locação: E na lista de incentivos, o que podemos citar como estímulo à eletrificação no Brasil para os próximos anos? DW: Além das regras para as montadoras, que estão ficando cada vez mais rígidas no que diz respeito à descarbonização, o Brasil é um dos poucos países com indústria e escala que pode suportar a produção de sistemas para a tecnologia do motor a explosão. As empresas precisam pensar em como aproveitar a escala de produção e ter competitividade enquanto o país navega na transição para as novas tecnologias. Há o risco a ser mitigado, que é o de a indústria perder relevância local e global e, com isso, o Brasil virar um mero importador de veículos montados. Locação: Como o sr. analisa a presença dos elétricos nas locadoras brasileiras? DW: As grandes locadoras já incorporaram veículos elétricos à frota, mas não são agressivas em ampliar essa presença. Elas precisam ter essa oferta, inclusive para aquele cliente que se interesse em alugar para conhecer, como num test drive mais completo. Locação: Os elétricos já começam a ser percebidos pelos clientes de locação? DW: Sim, existe uma iniciativa interessante da BYD em parceria com a 99, de oferecer a locação do elétrico para motoristas de aplicativo. Ambas as empresas têm origem chinesa. Nos Estados Unidos, houve algo semelhante: a Tesla ofereceu seus modelos para test drives em locadoras Locação: E quanto à depreciação? DW: Existem alguns levantamentos nos Estados Unidos que apontam para uma curva de depreciação do elétrico maior do que a dos veículos com combustível fóssil, após um ano de uso. Enquanto esses depreciam entre 8,5% e 10% ao ano, os elétricos ficam em torno dos 12% de depreciação. Entrevista 7

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