Revista Locação 110

6 7 Locação: Então a elevação do preço dos novos não terá trégua? MK: Agora, com o dólar em baixa, a tendência é que tenhamos somente uma acomodação dos preços de lista, que serão ajustados acompanhando a inflação, para recompor perdas pontuais. Os preços reais de transação subiram com o fim da MP 1.175/23, de incentivo federal, e desde agosto, temos observado inclusive algumas medidas de ação de incentivos das montadoras. Locação: A reforma tributária em votação no Congresso poderá ser benéfica para a indústria e resultar em queda de preços dos veículos? MK: Sim, no longo prazo. Essa reforma tributária é o primeiro de dezenas de passos que o Brasil precisa dar para se tornar competitivo. E não podemos nos esquecer que os benefícios dessa reforma entrarão em vigor apenas num futuro a médio prazo, então ainda restará tempo para sentirmos esses efeitos, mesmo após a aprovação. Locação: Em relação aos seminovos, o mercado conta com uma possível queda da taxa de juros e maior oferta de crédito no segundo semestre? MK: Sim, existe uma expectativa de que os juros básicos, hoje em 13,75% ao ano caiam 0,75 pontos percentuais. Para a próxima reunião do Copom, acredito numa queda mais conservadora de 0,5 ponto percentual e há quem diga que a queda será ainda mais conservadora, de apenas 0,25. Enfim, qualquer queda nos juros, que ainda estarão em patamares elevados, ampliará a oferta de crédito, ampliando do a parcela da população capaz de financiar. Locação: Quais outros fatores vindos da pandemia ainda estão influenciando os preços dos automóveis? A crise dos semicondutores, por exemplo? Ou as preocupações agora são outras, mais conjunturais? MK: As questões da pandemia foram superadas. Apesar de ainda trabalharem no limite, a oferta de semicondutores já está regularizada. O legado que ficou foi a alta inflação e a elevação dos preços dos veículos ocorrida não apenas no Brasil mas observados em diversos mercados. Costumo dizer que existem alguns pilares básicos em que o consumidor se apoia para realizar a compra de um bem de alto valor agregado: o preço, os juros, o crédito e a confiança. Locação: Está faltando confiança para a compra de um volume maior de veículos? MK: Da mesma forma os juros estão elevados há tempos, falta crédito, embora não tanto por culpa das financeiras, existe sim falta de confiança do consumidor. Ou seja, um cenário pouco positivo para o aumento da demanda na venda de veículos automotores, refletida nos números. Ao que tudo indica, estamos nos dirigindo para o quarto ano em vendas internas, entre automóveis e comerciais leves, dentro da casa dos dois milhões de unidades. Locação: Para encerrar, existe ainda mais algum outro fator capaz de estimular a subida de preços dos carros 0 km no Brasil? MK: No Brasil e no mundo, o que também gera tendência de elevação dos preços e que faz acender o sinal amarelo é a evolução tecnológica. Isso vale tanto para aquelas reguladas por lei, que se tornarão obrigatórias em breve, quanto pela tendência global dos veículos elétricos e eletrificados. CHEGOU A HORA DA CALMARIA NOS PREÇOS DOS CARROS? FAZ PARTE DO DIA A DIA de Milad Kalume, head de negócios da Jato Dynamics do Brasil, acompanhar atentamente o mercado automotivo, desde os preços e volume de vendas dos veículos novos até as tendências que podem afetar o movimento do varejo de automóveis no Brasil. Nesta entrevista, ele antecipa o que esperar do mercado para os próximos meses. “NO LONGO PRAZO, A REFORMA TRIBUTÁRIA PODE RESULTAR EM REDUÇÃO DE PREÇOS DOS VEÍCULOS NOVOS E ASSIM BENEFICIAR O SETOR DE LOCAÇÃO” Locação: O primeiro semestre foi marcado pelo pacote do governo, aquela tentativa de reduzir os preços dos veículos de entrada. E agora, qual a tendência até o final do ano? Milad Kalume: Os preços de tabela deverão permanecer altos. Nada observaremos de diferente, como aconteceu, por exemplo, em 2020. Hoje o veículo está muito oneroso ao trabalhador brasileiro, porque são necessários mais de 52 salários-mínimos para a aquisição dos modelos mais baratos, sem opcionais ou pintura metálica. Em poucas oportunidades o veículo no Brasil esteve tão caro e, em dólar, nunca esteve tão caro! Entrevista Entrevista

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