Revista Locação 109

6 7 Locação: O senhor aponta acertos na medida anunciada. Quais seriam eles? ML: A medida contempla vários pontos importantes no setor de autos e leves, começando pelos preços na faixa de até R$ 120 mil, o que contempla a grande maioria das montadoras, e atribui um crédito maior para os veículos de entrada, eficiência energética e fonte de energia, o que propicia maiores investimentos em pesquisa e desenvolvimento e o índice de conteúdo local, o que vai beneficiar toda a cadeia produtiva do setor. A ampliação das medidas para o setor de caminhões e ônibus foi outro destaque, pois há muito tempo o setor de pesados tem cobrado do governo federal ações que propiciem a renovação de frota. Mas isso carece ainda de uma regulamentação específica para o descarte e reciclagem dos veículos usados elegíveis. O programa não baixou, como alguns esperavam, as alíquotas de impostos. Os fabricantes receberam créditos fiscais nos veículos elegíveis até o limite dos recursos alocados. Locação: Haveria algum outro ponto que poderia ter sido incluído na medida e repercutiria no mercado? Quais? ML: Faltaram medidas de ampliação das linhas de crédito. A liberação do depósito compulsório para financiamentos de veículos poderia aumentar a oferta de financiamentos. Faltou também uma interlocução com os estados, para uma redução temporária nos impostos estaduais. Outra alternativa, mas que precisaria igualmente do aval dos governos estaduais, seria o aumento do limite de isenção de ICMS para o público PCD. Locação: O senhor concorda que faltou atacar questões mais profundas que atingem o setor, como os juros altos, a redução de crédito e a inadimplência? ML: O recuo de vendas no setor automotivo está relacionado diretamente à perda de poder aquisitivo, juros altos, elevação de preços e o redirecionamento da produção das montadoras para veículos com maior valor agregado. Taxas de juros, inflação e ampliação de crédito não são resolvidos por decretos, necessitam de ajustes nas contas públicas, reforma tributária e politicas mais claras de distribuição de renda. Locação: O que acontecerá com os preços dos veículos seminovos? É possível ter uma projeção? ML: Os veículos seminovos, principalmente os com menos de três anos, tendem a sofrer uma pequena queda nos preços, não sendo possível estabelecer ainda qual será o real impacto no setor. Na minha opinião, considero esse movimento de ajuste de preços uma oportunidade para o segmento aumentar seus volumes de negócio. No entanto, o prazo das medidas de incentivo ficou estabelecido em no máximo quatro meses ou até esgotar os recursos destinados para esse programa. No caso dos autos e leves, os recursos destinados são de R$ 500 milhões e devem se esgotar em um prazo de 30 dias. Equivalem a uma venda elegível de 100 mil unidades. Ou seja, o programa vai encerrar antes do prazo estabelecido em decreto. Ou terá que ter um substancial aporte. Aqui vemos o primeiro problema: a ampliação da faixa para até R$ 120 mil limitou o volume a ser atendido pelo programa. Destaca-se ainda que mais de 25 mil veículos deixaram de serem vendidos em maio, em função da divulgação antecipada do programa. No caso de caminhões e ônibus, existe ainda toda uma cadeia de legislação e procedimentos, que ainda devem serem divulgados e implementados para o descarte e reciclagem dos veículos recebidos na troca. Locação: As medidas vão incentivar de fato as compras de veículos novos? ML: A formatação do programa é quase uma campanha de vendas com bonificação. Os descontos entre R$ 2 mil até R$ 8 mil terão impactos positivos no crescimento de vendas de junho, principalmente nos quase 25 mil clientes que postergaram suas compras. Locação: As chamadas vendas diretas, que hoje chegam a 50% das vendas da indústria, serão afetadas? Qual a expectativa? ML: As vendas diretas serão afetadas no primeiro mês, em função da limitação do programa que estendeu o benefício exclusivamente a pessoas físicas nos primeiros 30 dias. Ou seja, os grandes frotistas vão postergar suas compras. Locação: Qual montadora poderá se sair melhor no cenário do novo carro popular? ML: As principais montadoras de volume serão beneficiadas. A Fiat lidera hoje as vendas em 21 Estados, mais o Distrito Federal, e deve abocanhar boa parte desses créditos. Seu modelo de entrada é o mais vendido no subsegmento. A Renault deve também aproveitar esse momento para aquecer as vendas de seu modelo de entrada. FIM DO SINAL VERMELHO NO MERCADO AUTOMOTIVO? CONSULTOR INDEPENDENTE NO SIADE – Sistema de Tomada de Decisão, Marcelo Cavalcante de Lima acompanha de perto o mercado automotivo, para prover aos clientes informações atualizadas sobre o comportamento de preços de veículos. Conversamos com ele para entender quais são os acertos e pontos falhos das medidas que o governo anunciou para reduzir o preço e estimular a venda de carros novos. Confira a análise e opinião dele a seguir. “NO CASO DOS AUTOS E LEVES, OS RECURSOS DESTINADOS SÃO DE R$ 500 MILHÕES E DEVEM SE ESGOTAR EM UM PRAZO DE 30 DIAS” Entrevista Entrevista

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