Revista Locação 108

6 7 Locação: Como o mercado recebeu a proposta do retorno do carro popular? RB: Na medida em que a crise dos semicondutores se dissipa, aos poucos a indústria vem compreendendo a existência de um problema ainda pior: o empobrecimento médio dos brasileiros – de dezembro de 2019 a meados de 2021 a queda já passava de 11% –, que, associado à elevação da Selic, que saltou de 2% em fevereiro de 2021 para os atuais 13,75% em agosto do ano passado, além, obviamente, do preço dos veículos – alta de cerca de 50% entre 2020 e 2022 –, criou algo como uma “tempestade perfeita” que nos levou à crise de demanda que vivemos hoje. Ressalve-se que os preços dos veículos foram enormemente pressionados pelo aumento dos insumos de produção. Vale lembrar que o cenário ainda poderia ser bem mais adverso não fossem as vendas diretas, que, não por coincidência, “namoram” um índice de 60% das vendas totais. Era natural que soluções de contorno começassem a ser discutidas, e uma delas é justamente o retorno da produção de carros populares que, com a redução de recursos tecnológicos, evidentemente desconsiderando os ligados à segurança veicular e redução de emissões, poderiam permitir preços mais baixos na ponta de venda. Conversando com executivos gabaritados do setor, colho opiniões a favor e contra esta iniciativa, todas muito bem embasadas, mas a grande questão que a meu ver ainda precisa ser muito debatida, e priorizada, é se esse movimento encontraria um nível de adesão por parte dos consumidores que tornasse esse caminho viável economicamente. Vale lembrar que qualquer executivo, de qualquer setor, em qualquer país, que deseja colocar um produto novo no mercado, toma como uma de suas primeiras providências realizar uma criteriosa pesquisa entre seus consumidores-alvo para avaliar o potencial comercial do mesmo. Por que não usarmos o mesmo conceito neste caso? Muito antes da consumação da crise atual (precisamente em maio de 2021), mas já a prevendo no horizonte, promovi uma enquete no Linkedin onde revelou-se que a ideia não só seria aprovada pela maioria dos respondentes como também seria bem-visto que sua aplicação não ficasse restrita aos modelos de entrada. Há dois meses, repeti a mesma enquete e o resultado foi ainda mais enfático na mesma direção. É preciso ressalvar que a base de respondentes foi muito menor que a ideal. Mesmo assim, houve uma consistência nos resultados que não pode ser desprezada, mas sim investigada com mais profundidade. Não vejo outra alternativa senão promovermos uma ampla e minuciosa pesquisa nacional que dê voz aos nossos consumidores, de forma a validar, ou não, a hipótese de retorno do carro popular ao mercado, antes de qualquer investimento nesse sentido. “O CENÁRIO PODERIA SER PIOR SEM AS VENDAS DIRETAS” FALAMOS COM O CONSULTOR RICARDO BACELLAR, UM DOS MAIORES ESPECIALISTAS DO MERCADO AUTOMOTIVO, SOBRE O ATUAL CENÁRIO E O PROVÁVEL RETORNO DO CARRO POPULAR. “NÃO VEJO ALTERNATIVA SENÃO PROMOVERMOS UMA AMPLA E MINUCIOSA PESQUISA NACIONAL QUE DÊ VOZ AOS CONSUMIDORES A RESPEITO DA VOLTA DO CARRO POPULAR” BACELLAR É CONSELHEIRO CONSULTIVO PARA O MERCADO DE MOBILIDADE E FUNDADOR DA BACELLAR ADVISORY BOARDS – AUTOMOTIVE & MOBILITY. CONFIRA A ANÁLISE E OPINIÃO DELE A SEGUIR. Entrevista Entrevista

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