Revista Locação 108

Capa DE OLHO NOS PREÇOS! Veículos com preços mais baixos dependem de arranjo na política tributária e adaptação de itens que se tornaram comuns e com boa aceitação. Se, por um lado, isso pode ser positivo para locadoras no momento de comprar carros novos, por outro traz preocupação em relação à desvalorização dos seminovos UM MODELO DE ENTRADA sem boa parte de opcionais e pouca tecnologia embarcada, com preço ao consumidor menor do que o normalmente seria praticado, graças a incentivos tributários. Quem acompanha o mercado automotivo há anos e leu a descrição do parágrafo anterior vai se lembrar imediatamente do chamado “carro popular” que durante décadas dominou as vendas internas de veículos. CRÉDITO: AZERBAIJAN_STOCKERS/FREEPIK Alguns imaginavam que essa configuração de carro acessível não mais seria uma realidade, diante da evolução da tecnologia e do próprio consumidor, que passou a valorizar cada vez mais o conforto de um automóvel bem equipado. Mas o fato é, com a elevação e manutenção dos preços dos carros de entrada em um patamar acima do desejado, o zero quilômetro está se tornando um sonho cada vez mais impossível para muita gente. Nesse cenário, a cultura da locação tende a crescer e o serviço de aluguel se torna a cada dia uma alternativa para o acesso a um veículo novo. Feita essa ressalva, não é interessante para toda a cadeia ligada ao setor automotivo termos uma indústria com elevada ociosidade. A volta do carro popular é uma das propostas que estão na mesa para criar maior demanda de produção e vendas. 10 Capa 11 Os números atestam o decréscimo nas vendas. Há dez anos, a indústria automotiva chegou a comercializar internamente cerca de 3,6 milhões de automóveis e comerciais leves, lembra Cassio Pagliarini, da Bright Consulting. Esse número caiu quase pela metade no ano passado (2 milhões). “Diante dessa queda, é natural que se procurem alternativas para retomar as vendas e melhorar a utilização da capacidade produtiva, que hoje gira em torno de 4,4 milhões de unidades por ano”, analisa Cassio. Segundo ele, a elevação dos preços do zero quilômetro segue a lógica do repasse de custos e a implementação de novas tecnologias, afastando cada vez mais as classes menos favorecidas da oportunidade de ter um carro novo. A redução de preços para trazer de volta o carro popular à prateleira passa por uma mudança na tributação que incide sobre a venda do zero quilômetro. “Quando o primeiro carro popular surgiu, o IPI estava ao redor de 20% e caiu inicialmente para 7% e depois para 0%. Foi um enorme empurrão”, lembra Cassio. Hoje, sobre a venda do veículo a combustão mais barato, incidem 5,27% de IPI ou, conforme a elegibilidade do programa Rota 2030, até 3,27%. “Nessa faixa, fica impossível criar alguma vantagem para termos um veículo popular”, avalia o consultor. Outra solução, portanto, deveria ser formulada. Com relação a outros impostos, como o PIS/Cofins e o ICMS, será necessário alinhar a redução com todos os entes que arrecadam tributos para alcançar o benefício da redução. Além da dificuldade em se encontrar um novo arranjo tributário, existem outros empecilhos para a volta do popular, começando pela redução de itens de segurança. “Hoje, ninguém estaria disposto a embarcar num veículo com menor segurança apenas para garantir um menor preço”, avalia Cassio. CASSIO PAGLIARINI: HÁ ALTERNATIVAS QUE MERECEM SER ESTUDADAS PARA TERMOS UM CARRO COM PREÇO MAIS ACESSÍVEL Ele lembra que em outros países há categorias de veículos mais acessíveis, mas com limitações de uso, devido à segurança. Não podem, por exemplo, entrar em estradas. O ideal, segundo o consultor, seria buscar alternativas que não prejudiquem a segurança, nem a disponibilidade de equipamentos. “A disparidade do que tínhamos à época dos populares com os modelos de hoje começa pela motorização. Tínhamos veículos com 45 HP no motor 1.0. Hoje, eles alcançam de 75 a 82 HP. Se houvesse a possibilidade de termos veículos menos potentes, haveria aí um potencial de redução de custos”, comenta ele. Outras possibilidades seriam, por exemplo, ter um sistema multimídia mais simplificado e substituir o ar-condicionado por um sistema exclusivo para ar frio. “Existem alternativas que podem ser estudadas. Não chegaríamos ao nível de desconto da década de 1990, mas já seriam medidas válidas para alavancar a indústria”, conclui Cassio.

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