Revista Locação 107

6 7 Entrevista Locação: Como está se comportando o mercado de seminovos neste início de ano? Ana Renata Navas: Nós vivemos hoje uma tendência de estabilidade, depois de a pandemia ter afetado muito os preços dos seminovos. Nunca havíamos presenciado uma subida tão extraordinária e inesperada de preços assim. Essa situação de alta começou a desacelerar no ano passado. Indústria e compradores passaram a viver com a expectativa de queda de preços. Era a pergunta que se fazia a todo momento: ´quando os preços vão cair?´ Os sinais de estabilidade começaram a surgir no último trimestre de 2022. E o que significa estabilizar nesse momento? Significa estancar o viés de alta e até mesmo reduzir o preço de alguns modelos. Em alguns casos, essa queda chegou a quase 5%. Alguns cenários contribuíram para isso, com destaque para o fato de que nessa época, final de ano, as financeiras são mais propensas a conceder mais crédito. Ocorre que o mercado ficou com aquela expectativa de que os preços iriam despencar, e não foi isso que aconteceu. A redução que aconteceu no último semestre se manteve. Não houve retomada de preços, mas, em compensação, os preços não continuaram a cair, como muitos esperavam. Locação: Por que os preços não caíram como o esperado então? ARN: Muito em função da inadimplência, que assusta, cresceu absurdamente. Estudos da B3 mostram que a inadimplência subiu demais, tanto entre pessoas físicas, quanto jurídicas. Além disso, vimos aumentar muito o número de fraudes, de gente que consegue burlar as regras dos empréstimos. Muitas lojas foram descredenciadas porque passaram às financeiras um pedido de crédito que depois se mostrou inseguro. Tudo isso fez com que os bancos puxassem o freio de mão. Menos crédito, menor venda de carros. Como não há compradores, as lojas permanecem com estoque em alta. Então as locadoras têm dificuldade em realizar a desmobilização, pois não há demanda pelos seus seminovos. Entrevista Locação: Como recuperar essa situação crítica de oferta de crédito? ARN: Esse é um problema crônico no Brasil. Em outros mercados, a atuação dos bancos é diferente. Nos Estados Unidos, entre 90 e 80% dos veículos são financiados. Aqui, esse número despenca para 30%. Os bancos locais deveriam rever seus processos internos para oferecer mais crédito. A parcela da população que ainda não consegue financiamento de veículos ainda é muito expressiva. Se houvesse mais funcionalidade por parte dos bancos, eles poderiam entregar mais crédito. Locação: A retomada do mercado de novos poderá colaborar com o mercado de seminovos? ARN: Sim, a Anfavea colocou para este ano uma meta um pouco mais otimista do que a do ano passado, em torno de 3 milhões de veículos novos. Mas os especialistas acreditam que recuperação mesmo para chegar a níveis anteriores à pandemia só a partir de 2025. Locação: É prudente aguardar por essa esperada redução de preço dos seminovos nos próximos meses? ARN: Acredito que não haverá redução abrupta de preços neste semestre, a menos que haja mudanças no cenário da concessão de crédito. Para o segundo semestre, há um movimento natural de maior liberação de crédito. Portanto, é preciso controlar a ansiedade porque os preços não vão baixar assim tão cedo. Locação: Para as locadoras, o que pode mudar em 2023? ARN: Por um lado, o preço dos novos e seminovos em alta beneficia a demanda de locação de veículos. Mas na outra ponta, as locadoras têm dificuldade em realizar a desmobilização. Se existe essa urgência de desmobilização, é melhor que as locadoras saiam a campo para negociar volume e preço na venda de seus seminovos. Adiar muito a desmobilização significa arcar com um custo estacionado no meu pátio. Mas se a locadora tem tempo para segurar esses seminovos na frota, pode aguardar por uma mudança de cenário no segundo semestre. MERCADO DE SEMINOVOS RUMO À ESTABILIDADE ANA RENATA: O MERCADO DE SEMINOVOS DEVE SE ESTABILIZAR NESTE PRIMEIRO SEMESTRE, FRUSTRANDO AQUELES QUE AGUARDAVAM UMA QUEDA ABRUPTA DE PREÇOS APÓS UM 2022 CHEIO DE OSCILAÇÕES, ainda como reflexo da pandemia, o mercado de seminovos começa a se estabilizar. Na entrevista a seguir, Ana Renata Navas, diretora geral da Cox Automotive no Brasil, comenta o atual momento e faz projeções para os demais meses do ano. Mas inadimplência em alta assusta e freia a concessão de crédito, analisa a diretora da Cox Automotive, Ana Renata Navas

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