17 Locação: Esse peso da Ásia na fabricação de semicondutores é uma preocupação? RN: Bem, o governo norte-americano anunciou recentemente pesados investimentos, na ordem de US$ 52 bilhões, aguardando aprovação do Senado, a fim de atrair empresas de manufatura para o seu território. Lá já existem, claro, centros tecnológicos dedicados à pesquisa de semicondutores. A Intel, por exemplo, é uma empresa americana, com grande participação de mercado. Mas as fábricas dessas companhias estão na Ásia, isso foi uma decisão tomada no passado, por questão de custos. Locação: Hoje, a visão é que não basta ter apenas o domínio do projeto, é necessário ter também o domínio da manufatura? RN: De fato, mas mudanças como essa levam tempo. Uma fábrica nova demora a começar a operar, mesmo com todos os equipamentos já disponíveis, o que, por si só, pode levar até 18 meses. Depois tem um período preparação da operação e qualificação que pode levar até três anos. É um investimento de bilhões. “AQUI NO BRASIL, AGORA É QUE SURGEM ALGUMAS INICIATIVAS MAIS ROBUSTAS DE FABRICAÇÃO LOCAL” “ALGUÉM JÁ DISSE QUE O AUTOMÓVEL DO FUTURO SERÁ UM CELULAR SOBRE RODAS. E ISSO É VERDADE” Entrevista Locação: Além dos Estados Unidos, quais outros países podem entrar nessa briga? O Brasil está incluído? RN: A Europa está fazendo a mesma coisa que os Estados Unidos. Aqui no Brasil agora é que surgem algumas iniciativas mais robustas de fabricação local, na chamada fase de difusão, ou seja, da manufatura do chip. Mas elas ainda estão no começo. A boa notícia é que no que se refere ao encapsulamento de semicondutores já temos no mundo dez fábricas entrando em operação em 2022, e outras 14 começaram a produzir em 2021. O adicional de capacidade é de 12% a 13%, devido à substituição de equipamentos obsoletos. As empresas de encapsulamento de semicondutores locais respondem por 10% da demanda interna. O setor já fatura no Brasil mais de R$ 4,5 bilhões na venda de circuitos integrados, principalmente memórias. Locação: Essa produção local de semicondutores tem alguma aproximação com a indústria automotiva? RN: Ambas fazem parte de um grupo de trabalho amplo, com o governo, que estuda modelos de negócio para a fabricação de semicondutores no país. Tanto no Brasil quanto no mundo, a proximidade dos fabricantes com a indústria automotiva é necessária para evitar que o mercado sofra novamente o problema atual de desabastecimento. Locação: A vontade política poderá ser decisiva para o Brasil ter uma fábrica de semicondutores? RN: Verdade, até porque isso é prática recorrente em outros países, que invariavelmente fazem investimentos públicos em pesquisa e desenvolvimento ou oferecem subsídios e subvenções para atrair novas fábricas. É uma questão de desenvolvimento de know how, de soberania. A vontade política, no caso, é a iniciativa de criar condições para que essa tecnologia se desenvolva no país. Passa, por exemplo, por uma reforma tributária, por uma desoneração fiscal.
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