16 Locação: Quando começou a se desenhar a atual condição de falta de semicondutores no mercado? Rogério Nunes: Ao menos dois fatos, surgidos com a pandemia, criaram essa situação. O primeiro foi a interrupção da produção em algumas fábricas de semicondutores na Ásia. Foi uma parada curta, mas a retomada à produção regular pode demorar dois ou três meses, estendendo então o período de impacto na cadeia global de fornecimento. Outro motivo foi o aumento da demanda por semicondutores, principalmente em produtos como smartphones e notebooks, com uso mais acentuado no home office e nos estudos a distância. Locação: Especificamente em relação os semicondutores para os veículos, a demanda maior que a oferta vem desde 2020? RN: Sim, com a pandemia a indústria automotiva também sofreu uma parada e, ao retornar à atividade normal, ao final de 2020, não encontrou semicondutores no volume desejado, já que os fabricantes de semicondutores acabaram direcionando a produção para outros setores que estavam crescendo em demanda. Adicionalmente, podemos observar que houve um aumento dos pedidos da indústria automotiva, exatamente nesse período. Isso veio em decorrência das tendências de se produzir cada vez mais veículos com apelo ecológico e em sintonia com políticas ambientais e, principalmente, carros elétricos com funções de conectividade. Tudo isso aconteceu ao mesmo tempo, criando um desalinhamento na cadeia produtiva. Locação: Quais são exatamente os outros setores nos quais a demanda também é crescente? RN: Os semicondutores são demandados em várias das frentes de inovação tecnológica, como o 5G, por exemplo, o armazenamento em nuvem, os datacenters. A medicina, a educação, todas as especialidades devem aumentar a demanda por semicondutores. Daí vem essa grande concorrência pelo componente. E esses semicondutores da indústria automotiva e seu entorno são geralmente aqueles mais sofisticados, utilizados como memórias, circuitos de conectividade e de transmissão de dados do carro. Alguém já disse que o carro do futuro será um celular sobre rodas. E isso é verdade. “A PRESENÇA DE SEMICONDUTORES NOS VEÍCULOS SÓ AUMENTA, BOA PARTE EM FUNÇÃO DA CONECTIVIDADE” “PROXIMIDADE ENTRE FABRICANTES E INDÚSTRIA AUTOMOTIVA É NECESSÁRIA PARA EVITAR O DESABASTECIMENTO” Locação: É fato que a quantidade de semicondutores em um veículo é bem superior à de um smartphone, por exemplo? RN: A presença de semicondutores nos veículos só aumenta, boa parte em função da conectividade. Um carro elétrico pode ter até 40% ou 45% de seu custo apenas com a parte eletrônica. Há cerca de oito anos, o fornecimento para a indústria automotiva correspondia a 4,5%, ou cerca de US$ 350 bilhões. Esse mercado é estimado para 2025 em torno de US$ 600 bilhões. A indústria automotiva deve bater em 10% da demanda de chips, e o crescimento deve ser ainda maior na próxima década. Locação: Onde se concentra mundialmente a produção de semicondutores? RN: Existem fabricantes no mundo todo. Mas é a Ásia que concentra a maior parte da manufatura. Países como Taiwan produzem 45% dos wafers [bolacha de silício] de circuitos integrados. A Coreia do Sul, por sua vez, tem duas empresas que respondem por 68% do mercado mundial de memórias, e está anunciando investimentos para manter essa posição. O Japão também concentra certos insumos. Entrevista
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