Revista Locação 101

46 Fim de Papo ECON EMMARÇO, completam-se dois anos da pandemia do coronavírus no Brasil. O cenário atual é relativamente mais favorável, sobretudo com o avanço da vacinação alcançando a maior parte da população. Contudo, a pandemia ainda está muito presente na economia e traz grandes desafios para 2022, principalmente nas variáveis que determinam o consumo: emprego, renda e crédito. Sobre a primeira variável, no ano passado, foram criadas 2,7 milhões de vagas com carteira assinada, recuperando — e muito — os 191 mil empregos fechados em 2020, segundo dados do CAGED, do Ministério da Economia. Porém, a crise econômica se estende desde o biênio de 2015 e 2016. Desde aquele período, o país convive com nível de desemprego próximo a 14 milhões de pessoas. No início do ano passado, por exemplo, o número de desocupados superou os 15 milhões e, com a melhora da economia, conseguiu voltar para pouco mais de 12 milhões de desempregados, de acordo com os dados da PNAD, do IBGE. O problema é que a volta das pessoas ao mercado de trabalho se dá com um salário menor. Além disso, o processo inflacionário tem corroído a renda, levando ao menor nível do rendimento médio real do brasileiro desde 2012, com R$ 2.450. Desta forma, a segunda variável, renda, tem sido pressionada por conta do aumento dos preços. A inflação em 2021 foi de 10,06%, e com forte impacto dos principais grupos de consumo: alimentação, transportes e habitação. Com a inflação, o efeito é nefasto para o consumo das famílias. As vendas nos supermercados, por exemplo, recuaram 2% no último trimestre de 2021. Sem contar o setor de móveis e eletrodomésticos que caíram 20,4%, segundo pesquisa do comércio, do IBGE. Neste ponto, entra a terceira variável, o crédito. Além da inflação, os juros mais altos encarecem o produto na ponta ao consumidor e deixa mais caro também o seu financiamento. A taxa média do sistema financeiro cobrada do consumidor é de 45,1%, no último mês de dezembro, contra 37,2% do ano anterior, de acordo com o Banco Central, acompanhando a tendência da taxa Selic, que passou de 2% para 10,75% ao ano. Embora seja uma análise com dados do ano passado, mas ela diz muito sobre o que esperar em 2022. A Selic seguindo na direção dos 12% ao ano vai dar um freio na economia. Se o crescimento do PIB tende a ser pífio, tendendo para a recessão, as oportunidades de emprego devemminguar. Ao mesmo tempo, a inflação continuará alta com resquícios do choque de oferta causado pela pandemia. Adicione-se ao cenário de 2022 as eleições, com a polarização do país, o que gera riscos para os grandes investimentos que poderiam contribuir para trazer emprego e renda. Além, de manter a taxa de câmbio pressionada acima dos R$ 5. Portanto, com o consumidor acuado diante da geração fraca de emprego e com um cenário de estagflação, não há condições de esperar uma retomada no comércio e serviços. Pelo contrário, será mais um ano de resultado muito aquém das expectativas ao longo deste terceiro ano de pandemia no Brasil. n FRACA E CONSUMIDOR ACUADO OMIA GUILHERME DIETZE ECONOMISTA, SÓCIO DA ECONDATA, CONSULTOR ECONÔMICO DA FECOMERCIOSP E DA FECOMÉRCIO-BA E CONSELHEIRO SUPLENTE DO CORECON-SP

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