15 O potencial de crescimento é enorme. A gente tem 20 milhões de veículos sendo comercializados a cada ano, e um volume considerável que fica de fora dessa conta, não gira, pois o comprador não tem o dinheiro à vista e nem acesso a crédito junto aos bancos de varejo. Em linhas gerais, o que houve não foi um cancelamento das compras, e sim um adiamento. A demanda permanece. Temos compradores, mas não temos carros. Também falta financiamento. O crédito está mais caro. Com tudo isso, quem puder se preparar em meio a esse cenário e se abastecer, deve aproveitar o momento. RL – Os preços dos carros continuarão subindo? AR – Alguns carros subiram 35% de 2020 até aqui, mas chegamos a um limite. O mercado comprador não está mais absorvendo esses reajustes. Não cabe mais no bolso. Quem pretende financiar o veículo também não tem como arcar com valores maiores no parcelamento. Os bancos precisam ter a habilidade de conciliar preço, spread, riscos e a capacidade de pagamento do comprador para não paralisar o mercado. E os próprios bancos de montadora precisam desempenhar um papel para que a compra de um veículo novo seja algo acessível. RL – O comércio on-line de veículos, que ganhou força na pandemia, continuará sendo uma tendência? AR – Esse é um caminho sem volta. Não é mais uma opção para a concessionária ser ou não ser on-line. O brasileiro já adotou a compra on-line em todos os setores de consumo, ele gosta de tecnologia. Toda empresa precisa estar preparada para o mundo on-line, repensando o negócio para atender o cliente no universo digital. A resposta do cliente nesse universo é imediata, ele está aberto para isso. Hoje, já é possível realizar uma operação de venda de veículo 100% digital, inclusive com o financiamento. O mesmo é válido para as locadoras, que precisam comprar e vender seus veículos. RL – O carro popular é coisa do passado? AR – Conforme falei, o brasileiro busca tecnologia. Ele quer se conectar, ter um ambiente multimídia, usar as facilidades tecnológicas a partir do carro. E isso encarece o custo do veículo. Assim, não existe carro popular no Brasil há pelo menos cinco anos. Qualquer carro de entrada aqui começa hoje a partir de R$ 50 mil. E esse é também um caminho sem volta. A montadora tende a investir cada vez mais em tecnologia aplicada ao uso do carro. Carros conectados, moderninhos e com design que agrade o brasileiro demandam investimento. RL – E com relação aos elétricos? Chegou finalmente a vez deles? AR – A venda de veículos elétricos no ano passado cresceu bastante. Mas foi um crescimento em cima de uma base que é muito pequena. Existe demanda, mas ainda é um veículo muito caro para o brasileiro. O mercado ainda aguarda modernizações e avanços em infraestrutura para que o dono de um veículo elétrico ou eletrificado possa abastecer e ter autonomia com o carro. RL – A saída da Ford como fabricante do Brasil pegou o mercado de surpresa. Existe o risco de novas movimentações como essa? AR – Não, a saída da Ford foi motivada por questões administrativas, não em função do mercado. O Brasil é um mercado atrativo para qualquer montadora, riquíssimo e com grande potencial. Outras marcas, como a General Motors, estão anunciando investimentos bilionários no país. RL – Se pudesse dar um recado final para as locadoras, qual seria essa mensagem? AR – As locadoras precisam adotar o modelo de parceria com os lojistas, que ainda veem a locadora como ameaça. É preciso pensar mais na parceria, em vez de encarar a relação como de concorrência. Olhar não só a árvore, e sim olhar para a floresta inteira. n Entrevista "COM O AUMENTO NA PROCURA DOS CARROS, MAIOR DO QUE O NORMAL, OS PREÇOS SUBIRAM ABRUPTAMENTE"
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