Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2021
Anuário da COMUNICAÇÃO CORPORATIVA | 2021 105 As agências de comunicação começam a surfar na pro- missora onda dos conceitos ambiental, social e de governança (ESG, no acrônimo em inglês), que seguem em alta nos cená- rios local e internacional. No primeiro trimestre, por exemplo, as emissões dos chamados green bonds – atreladas, com frequência, a metas como a redução de pegadas de carbono – somaram US$ 4,04 bilhões no Brasil, 11 vezes mais do que em igual período de 2020. O salto reflete cobranças crescen- tes de investidores institucionais, como fundos de pensão e fundos soberanos, e gestoras de recursos por compromissos mais firmes das corporações com a sustentabilidade global. “A temática do capitalismo responsável já vinha num crescente e ganhou mais relevância com a pandemia da Co- vid-19, que amplificou o debate sobre desenvolvimento sus- tentável”, comenta Cleber Martins, sócio e diretor-geral da LLYC Brasil (Llorente y Cuenca). “A demanda por consultoria especializada vem evoluindo a olhos vistos. Estamos desen- volvendo projetos de gerenciamento de reputação junto a públicos estratégicos que envolvem ESG e outros conceitos.” O mercado doméstico, diga-se, é dos mais promissores para empresas de relações públicas dispostas a atuar na área. Um forte candidato à geração de receitas para as agên- cias nessa nova frente de atuação é o agronegócio nativo, que terá de buscar ajuda para interromper o processo de combus- tão do seu “filme” no plano internacional. Apontados como os grandes responsáveis pela escalada dos desmatamentos na Amazônia e no Cerrado, produtores de carnes e de grãos já começam a sofrer boicotes de investidores institucionais e redes de varejo estrangeiras. “Buscamos não apenas empresas que querem defender ou valorizar suas imagens, mas também seus fornecedores e toda a cadeia de suprimentos do movimento ESG”, diz Fábio Santos, que assumiu o comando da CDN em outubro último. “É um segmento com excelentes perspectivas e que já nos garantiu alguns negócios. A prospecção de novas oportunida- des segue em frente.” JeffreyGroup e XCOM, da mesma forma, vêm elevan- do suas apostas no nicho. No fim do último ano, a primeira criou uma área de impacto social e sustentabilidade voltada à agenda ESG, dando sequência a um trabalho iniciado em 2019. A demanda, assinala Patrícia Ávila, diretora-geral para o Brasil, ganhou escala após a eclosão da pandemia com a crescente disposição de clientes e prospects de dar visibili- dade a ações ambientais e sociais que preencheram lacunas abertas por omissões do setor público. “A iniciativa nos ren- deu, nos últimos meses, três novos clientes, para os quais prestamos serviços de comunicação corporativa atrelada a conceitos ESG”, diz Patrícia. A procura é mais intensa, segundo Viviana Toletti, sócia da XCOM, por parte de subsidiárias de grupos multinacionais, cujas matrizes detém expertise de sobra na lida com temas ligados à sustentabilidade. Desde janeiro, a agência conquis- tou três novos projetos do gênero, elevando a sua carteira de corte ESG para cinco trabalhos em desenvolvimento. “Devere- mos ter novidades em breve. No momento, mantemos nego- ciações com mais duas empresas”, conta Viviana. Além de providenciar ajustes em seus cardápios e equi- pes, para atender demandas de caráter ambiental e social, algumas agências resolveram abraçar de vez a causa ESG. Um exemplo é a Ecomunica, que reza por essa cartilha desde o berço. Criado em 2012, o negócio, que acaba de receber o certificado de carbono neutro, assegura espaço em seu time para grupos minoritários e presta apoio a projetos e movimen- tos da sociedade civil. “Garantimos, a cada ano, atendimento gratuito a pelo menos uma nova causa de impacto”, conta a fundadora e CEO Ellen Bileski. A cobrança de uma postura corporativa mais responsável, em sua visão, é um fenômeno sem volta. Um dos avisos mais relevantes nesse sentido foi a carta endereçada em janeiro de 2020 por Laurence D. Fink, CEO da BlackRock, a maior gesto- ra de recursos do planeta, aos CEOs das empresas nas quais a instituição investe: “para prosperar, cada companhia terá de entregar não só performance financeira, mas também uma contribuição positiva à sociedade”, diz Fink no texto. “Pautas identitárias também estão em alta na agenda ESG. Um exemplo é o movimento Black Lives Matter, que mobilizou uma onda de protestos nos Estados Unidos após o assassinato de George Floyd por um policial, em maio de 2020”, obser- va Ellen. “Diversidade e inclusão tendem, portanto, a merecer atenção crescente das empresas. A assimilação destes e outros conceitos, no entanto, demanda tempo, pois envolve mudanças culturais profundas nas organizações.”
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