Revista Locação 92

44 EM TEMPOS de crise, a atividade empresarial fica ainda mais pressionada a preservar o caixa para se atingir resultados a qualquer preço. O cenário atual cria a “tempestade perfeita” para vários ti- pos de fraudes corporativas. Elas podem surgir desde a corrupção envolvendo empresas e o po- der público, como visto nos recentes escândalos em licitações para materiais e hospitais de cam- panha para a pandemia, passando pela formação de carteis, dumping e outros oportunismos con- correnciais, até a manipulação de demonstrações financeiras para tentar enganar investidores e credores. A nossa jovem Lei Anticorrupção, também co- nhecida como Lei da Empresa Limpa, muito veio a colaborar. Com recém completos sete anos de vi- gência, a norma tornou o compliance uma realida- de nos nossos negócios e um caminho sem volta. Uma empresa nacional não conseguirá contratar outra estrangeira se não tiver um programa de compliance , por exemplo. Da mesma forma, terá grandes dificuldades para buscar recursos no mercado se não comprovar para bancos e inves- tidores que tem uma governança adequada e um sistema de gestão de riscos. O compliance traz competitividade às empre- sas no mercado globalizado e deve ganhar ainda mais espaço nos próximos anos no controle de riscos e na cultura das empresas, especialmente quando descobrimos que a lógica do cisne negro mencionada na obra de Nassim Nicholas Taleb** é mais comum do que imaginávamos, de modo que uma análise de riscos sistêmicos e uma cultura de integridade deverão ser aprimoradas para a pró- pria sustentabilidade da organização. As corpora- ções, investidores, mercado e a sociedade só têm a ganhar com isso. Para que o resultado seja ainda mais eficaz, as empresas devem rever a forma de mensuração de metas e incentivos dados aos seus executivos. E apostar, ainda, no desenvolvimento de uma cons- ciência moral coletiva que não permita aos gesto- res atentar contra o coletivo. É preciso, portanto, investir ainda mais na construção de uma cultura de integridade. Ao fazer isso, a empresa agrega valor para a sociedade, proporciona um melhor funcionamen- to de nosso sistema econômico e cria uma refe- rência de que é possível dar certo fazendo a coi- sa certa, do jeito certo. As empresas começam a compreender, portanto, que não há custos extras em se fazer a coisa certa. Integridade em tempos de crise Fim de Papo RODRIGO DE PINHO BERTOCCELLI* * Rodrigo de Pinho Bertoccelli é advogado e professor. Ex-Presidente do IBDEE e Direito no Instituto Não Aceito Corrupção. ** No livro “A lógica do cisne negro”, Nassim Nicholas Taleb defende que acontecimentos improváveis, quando ocorrem, mudam a percepção das pessoas e parecem mais previsíveis ou inevitáveis do que imaginávamos (N.R.) VIABILIZAR A AMPLIAÇÃO DE NEGÓCIOS COM VIAGENS DOMÉSTICAS SÃO O PRINCIPAL OBJETIVO DA APROXIMAÇÃO ENTRE ABLA E BRAZTOA

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